O Senado francês renova, neste domingo (24), metade de seus assentos em uma eleição indireta que deve representar a primeira derrota eleitoral para o jovem presidente centrista Emmanuel Macron, o que complicaria seus planos para reformar a Constituição.
Os 76.359 grandes eleitores, em sua maioria prefeitos, começaram a votar às 06H30 GMT (03H30 de Brasília) para renovar 171 dos 348 senadores da Câmara Alta para um mandato de seis anos.
Macron teve uma curta lua de mel com os franceses. Menos de seis meses depois de chegar ao poder, apenas 44% dos entrevistados estão satisfeitos com sua administração.
Apesar de uma derrota no Senado não o impedir de governar, poderia complicar seus planos de impulsionar reformas constitucionais.
O porta-voz do governo, Christophe Castaner, admitiu que o Executivo não espera resultados semelhantes aos das legislativas de junho, quando os deputados do partido de Macron, A República em Marcha (LREM), conquistaram uma folgada maioria.
Os analistas acreditam que o Senado, dominado pelos conservadores desde 2014, vai continuar nas mãos da direita.
A direita domina atualmente a Câmara com 142 assentos, enquanto os socialistas têm 86 senadores.
Objetivos modestos
O partido de Macron conta com 29 senadores e estipulou metas modestas para o domingo: consolidar sua presença na Câmara Alta, que conta com um total de 348 assentos.
"Esperamos ir mas longe", declarou François Patriat, líder do grupo LREM no Senado. Contudo, o sistema eleitoral indireto não é favorável a Macron.
"A República em Marcha foi construída através de um vínculo quase direto com o povo francês", aponta François Miquet-Marty, da consultora Viavoice.
"Mas a eleição de senadores não funciona desta maneira", uma vez que seus membros são eleitos por sufrágio indireto por um colégio de grandes eleitores, dos quais 95% são prefeitos.
O governo adotou nos últimos meses uma série de medidas que não são do gosto dos representantes locais, entre elas um corte de 300 milhões de euros nos fundos para as autoridades locais e regionais.
Outros não estão satisfeitos com a decisão de Macron de eliminar um imposto local sobre a propriedade para 80% dos imóveis, um ingresso importante para seus orçamentos.
"O governo tem acumulado uma série de erros e tem feito tudo ao seu alcance para irritar os representantes locais", lamentou o senador centrista Vincent Capo-Canellas.
O Senado tem o poder de atrasar o andamento de projetos de lei, mas em caso de um impasse, a última palavra é da Assembleia Legislativa, dominada pela LREM, o que significa que, mesmo que Macron não obtenha uma maioria no domingo, poderá continuar a aplicar suas reformas econômicas.
Mas a Câmara Alta poderia, potencialmente, torpedear seus planos de empreender mudanças constitucionais, incluindo seu projeto de lei para reduzir em um terço o número de assentos no Parlamento.
Para isso, Macron precisaria do apoio de três quintos das duas câmaras combinadas, 555 assentos no total.
Atualmente, ele tem o apoio de cerca de 400 membros da Assembleia - 313 da LREM - mas precisaria reunir cerca de 160 mais no Senado.
Como último recurso, no entanto, disse que submeteria suas reformas a um referendo, se necessário.