A dois dias do referendo de autodeterminação proibido pela Justiça espanhola, os dirigentes separatistas da Catalunha explicaram nesta sexta-feira (29/9) como será realizada a votação diante do aparato policial e judicial em torno de sua organização.
[SAIBAMAIS]Após cinco anos pedindo a consulta sobre a independência dessa região de 7,5 milhões de habitantes, reiteradamente rejeitada pelo governo espanhol de Mariano Rajoy, o presidente catalão Carles Puigdemont decidiu levá-la adiante, desobedecendo as proibições judiciais.
Em coletiva de imprensa, o governo regional deu alguns detalhes sobre a organização da votação, para a qual estão convocados 5,3 milhões de cidadãos de uma região que representa 19% do PIB espanhol.
"Serão 2.315 colégios eleitorais, 207 deles em Barcelona e 6.949 mesas de votação", informou o porta-voz Jordi Turull, um número similar aos 2.700 instalados nas eleições regionais de 2015.
Alguns serão instalados em espaços pouco habituais, como banheiros públicos, ou praças, nos quais o governo regional pretende montar barracas para realizar a votação, explicou o porta-voz.
As lideranças separatistas mostraram pela primeira vez as urnas que serão usadas e que são, há semanas, procuradas pelos corpos de segurança: caixas de acrílico com uma tampa preta e abertura para introdução das células.
A consulta permanece cercada de incertezas, porém: uma grande quantidade de material eleitoral foi apreendida, departamentos-chave para sua organização estão sendo controlados de perto pela Polícia, o órgão de supervisão eleitoral teve de ser dissolvido, e a Justiça ordenou o fechamento das sedes de votação.
"Sabemos que no dia 1; de outubro haverá muitas dificuldades, mas também sabemos que, diante de cada dificuldade, haverá duas soluções", tentou tranquilizar Puigdemont, em declarações na quinta-feira.
Espaços de votação
As incógnitas são muitas. O organismo criado para supervisionar o sufrágio foi dissolvido quando seus membros receberam multas diárias de 12.000 euros por desobedecer ao Tribunal Constitucional, e o departamento governamental encarregado de contar os votos foi revistado na semana anterior pela Polícia.
Além disso, uma juíza, que investiga o governo regional por desobediência, desfalque e prevaricação, ordenou na quarta-feira às polícias na região o fechamento dos diferentes espaços (escolas, clubes e até centros de saúde) designados como pontos de votação.
A Polícia regional catalã se mostrou reticente a cumprir esta instrução, alegando o "mais que previsível risco de alterações na ordem pública que poderia derivar" dessa ação.
O Ministério do Interior espanhol, que coordena o dispositivo de segurança para a votação, insiste na necessidade de atuação da Polícia catalã, força que é subordinada ao governo regional. De qualquer modo, o Ministério conta com milhares de policiais federais e com guardas civis, enviados como reforço para essa região.
Votar, ou não votar
A crise econômica e a decisão parcial, por parte do Tribunal Constitucional, de um estatuto regional aprovado em referendo em 2006 dando mais autonomia à Catalunha fizeram crescer exponencialmente o sentimento separatista na região.
Na última pesquisa do governo regional, em julho passado, 41,1% dos entrevistados queriam a independência contra 49,4% que eram contrários, ou que ainda não sabiam se participariam da votação ilegal e pouco transparente, a qual sequer teve campanha eleitoral.
"Prefiro ficar com o que já conheço do que com o que está por vir, porque pode ser muito bom, ou muito ruim", justificou a fisioterapeuta Lorena Torrecillas, de 27 anos, de Barcelona, ainda indecisa.
A firme oposição de Madri à votação parece ter mobilizado alguns votantes. Segundo uma pesquisa do jornal digital eldiario.es, a participação de domingo deve chegar a 63,3% contra os 52,9% previstos há duas semanas.