Agência France-Presse
postado em 03/10/2017 11:27
Barcelona, Espanha - Quase 300 mil pessoas protestavam nesta terça-feira (3/10) em Barcelona em um dia de greve geral nesta região espanhola contra a violência policial exercida para impedir o referendo, considerado ilegal pela justiça, de domingo passado, informou um porta-voz da polícia municipal.
Segundo cálculos da Guarda Urbana de Barcelona, cerca de 300.000 pessoas se mobilizam em diferentes protestos organizados por toda a cidade, com gritos de "fora as forças de ocupação" em referência aos agentes da Guarda Civil e a Polícia Nacional destacados pelo governo central para impedir o referendo.
A Espanha vive uma de suas piores crises políticas dos últimos 40 anos, desde que o executivo separatista catalão decidiu organizar este referendo de autodeterminação apesar de sua proibição. Centenas de policiais interviram no domingo em centros de votação, utilizando cassetetes para dispersar os militantes concentrados na frente desses espaços para protegê-los e conseguir realizar a votação.
[SAIBAMAIS]Nesta terça-feira, em Barcelona, muitos manifestantes tentavam manter o espírito pacifista, mas a tensão era palpável em alguns pontos como em frente à Delegação do governo espanhol na região, protegida com um triplo cordão de vans da Polícia Nacional e agentes da polícia catalã. Também estavam presentes dezenas de bombeiros da região que, ao mesmo tempo que protestavam, tentavam manter a distância entre os manifestantes e o edifício.
Multidões se reuniram nas ruas, andando sem direção clara. Perto da praça da Universidade, onde fica a universidade mais antiga da cidade, ocupada há semanas por estudantes, se podia ler em um cartaz "Fechado por revolução". "Não queremos ser um país ocupado", gritavam os jovens em catalão. "Adeus Espanha", diziam outros, fazendo gesto com o dedo médio das mãos para um helicóptero da Polícia Nacional.
"No dia 1 de outubro fomos um país ocupado e ainda não foram embora", reclamou Antonia Maria Maura, professora da escola primária, de 56 anos. "É a hora da rebelião pacífica e da criação de um país livre", declarou Julia, de 14 anos. O presidente catalão "Carles Puigdemont tem que declarar a independência porque toda Europa viu que a Espanha não é uma democracia: votávamos, mas nos pegavam", acrescentou.
Já Paola disse que não é separatista, mas que quis protestar pela "liberdade de expressão e pela não violência". Mariano Rajoy, o chefe do governo espanhol, disse "que iria intervir com serenidade e respeitando as leis, e acabou que os policiais agiram dessa maneira violenta", completou.
Greve
O porto de Barcelona, terceiro da Espanha, e o principal mercado atacadista de alimentos da cidade estavam quase paralisados por causa da greve geral contra a violência policial. "A paralisação é quase total. Afeta os estivadores e transportadores. Não há nem atividade marítima nem terrestre", explicou à AFP um porta-voz do porto da capital catalã, o terceiro da Espanha em volume de mercadorias, e um dos maiores da Europa para cruzeiros turísticos.
Do mesmo modo, "a greve é praticamente total" em Mercabarna, o maior mercado de frutas e verduras da Europa. Neste centro, em que operam 770 empresas, "o mercado de frutas está totalmente fechado", assim como a seção de pescado, embora sejam atendidas um terço das demandas de carne e flores "para cobrir as urgências".
A Catalunha, que contribuiu com 19% do PIB espanhol em 2016, é, junto com Madri, a região mais rica da Espanha, além de ser a principal exportadora, com um quarto das vendas do país para o exterior em 2016 e no primeiro trimestre de 2017. Os dirigentes garantem que venceram o referendo com 90% dos votos - 2,02 milhões de apoios sobre um censo de 5,3 milhões de eleitores - e agora querem declarar a independência de maneira unilateral.