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ONU denuncia repressão sistemática de Mianmar para expulsar rohingyas

Mais de 500.000 rohingyas, ou seja, metade desta comunidade muçulmana apátrida instalada em Mianmar há décadas, fugiram para Bangladesh


Os investigadores delinearam uma campanha militar para erradicar os rohingyas de Mianmar, onde são vítimas de perseguição há décadas.

Os soldados birmaneses também operam frequentemente "junto com budistas armados do estado de Rakhine", segundo a ONU. "Em alguns casos, antes e durante os ataques, megafones foram usados para anunciar: ;Você não é daqui - vá para Bangladesh. Se você não for, vamos queimar sua casa e matá-lo", indica o relatório da ONU.

- Minas terrestres e violência sexual -
O pesquisador Thomas Hunecke declarou a repórteres em Genebra que a ONU tinha "informações muito credíveis" indicando que os militares haviam enterrado minas terrestres ao longo da fronteira com Bangladesh desde 25 de agosto.

"É altamente provável que essas minas tenham sido enterradas para evitar que os rohingyas voltem", considerou. Professores, bem como líderes culturais, religiosos e comunitários, também foram alvos da recente campanha de repressão "com o desejo de menosprezar a história, a cultura e o conhecimento dos rohingyas", continua o relatório.

"Esforços foram feitos para efetivamente apagar marcos na geografia da paisagem e da memória rohingya, de modo que um retorno para suas terras resultaria em encontrar um terreno desolado e irreconhecível". As conclusões da investigação apontam abusos destinados a "incutir um medo profundo e maciço" entre a população rohingya.

O relatório descreve cenas de soldados cercando casas e atirando indiscriminadamente contra moradores que fugiam por suas vidas, ou estupros coletivos por homens uniformizados contra mulheres e meninas, às vezes de apenas 5 anos de idade.

Um testemunho "recebido de uma fonte extremamente confiável, informou que uma mulher (grávida) teve a barriga aberta depois de ter sido estuprada". A ONU afirma que os investigadores conversaram com centenas de pessoas durante 65 entrevistas, algumas individuais e outras com grupos de até 40 pessoas.

O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra;ad Al Hussein, descreveu no mês passado a repressão contra os rohingyas como um "exemplo clássico de limpeza étnica".