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Governo espanhol ameaça suspender autonomia da Catalunha

O artigo 155 prevê que o governo central adote, com apoio de uma maioria absoluta no Senado, "as medidas necessárias" para obrigar a Catalunha "ao cumprimento forçado" da lei


Além disso, Sánchez expressou apoio ao pedido de Rajoy ao presidente catalão Carles Puigdemont para que esclareça se realmente declarou a independência.

Ato simbólico
Em seu discurso na terça-feira no Parlamento catalão, Carles Puigdemont deixou em suspenso a declaração de independência da região para tentar abrir um diálogo com o governo espanhol.

Logo em seguida, Puigdemont, seu governo e os deputados secessionistas majoritários no Parlamento catalão assinaram uma declaração escrita de independência, que segundo o porta-voz do Executivo regional, Jordi Turull, foi um "ato simbólico".

"A declaração de independência tem que ser feita pelo Parlamento da Catalunha, coisa que não aconteceu no debate de terça-feira", disse Turull. O governo de Rajoy insiste na ilegalidade do referendo de autodeterminação estimulado pelo governo independentista da Catalunha no dia 1 de outubro.

Puigdemont afirma que o "sim" venceu a consulta - que não teve supervisão eleitoral oficial - com 90% dos votos, em uma taxa de participação de 43%. A União Europeia, já sacudida pelo Brexit, acompanha a crise com preocupação. A Comissão Europeia reiterou nesta quarta-feira que esperava "o pleno respeito da ordem constitucional espanhola".

O vice-presidente do Executivo comunitário, Valdis Dombrovskis, também expressou a confiança de Bruxelas nas "instituições espanholas".

;Força destrutiva;
O referendo, cujos resultados não são verificáveis %u200B%u200Bdevido à falta de uma comissão eleitoral independente, iniciou a maior crise política na Espanha desde o seu retorno à democracia em 1977, dividindo igualmente os habitantes da Catalunha, onde vivem 16% dos espanhóis.

Antes de Rajoy, o ministro espanhol das Relações Exteriores, Alfonso Dastis, afirmou que a declaração de independência era um "equívoco", que provocará confrontos. Ele acusou os separatistas de serem uma "força destrutiva (...) que tenta destruir o Estado de direito".

"Diz que assume o direito à independência após o resultado do suposto referendo e depois pede ao Parlamento para suspender os efeitos da declaração", completou, antes de considerar "chocante esta forma de tratar" a instituição.

Em sua edição de quarta-feira, o jornal mais lido do país, El País, denuncia uma "armadilha" criada pelo Executivo catalão, que, segundo o jornal, busca apenas negociar a independência e "desestabilizar economicamente e politicamente" a Espanha.

Já o jornal catalão La Vanguardia evoca uma tentativa de "acalmar a tensão". Após o Conselho de Ministros, Mariano Rajoy deve falar aos deputados no final da tarde. Além da suspensão da autonomia, o governo também tem outras ferramentas a sua disposição, como decretar "estado de alarme", "estado de exceção" ou "estado de sítio", assim como a lei de "segurança nacional", promulgada em 2015, que permite determinar que o país está em uma "situação de interesse para a segurança nacional".

Também não se descarta a prisão de Carles Puigdemont e de sua comitiva como parte de um inquérito judicial aberto por sedição. Qualquer medida drástica, no entanto, poderá causar agitação na Catalunha, uma região de 7,5 milhões de habitantes, responsável por 19% do PIB do país.