Agência France-Presse
postado em 12/10/2017 10:35
Estados Unidos - Os Estados Unidos anunciaram, nesta quinta-feira (12), a sua decisão de retirar-se da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), alegando "preconceito contra Israel", segundo um comunicado oficial.
Washington estabelecerá uma "missão de observação" nesta agência da ONU com sede em Paris, substituindo sua representação como membro, disse a porta-voz do Departamento de Estado americano, Heather Nauert.
A diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, afirmou "lamentar profundamente" a decisão dos Estados Unidos.
"Lamento profundamente a decisão dos Estados Unidos, cuja notificação oficial foi enviada pelo secretário de Estado Rex Tillerson", escreveu em um comunicado.
"A universalidade é essencial para a missão da Unesco de construir a paz e a segurança internacionais em face do ódio e da violência, através da defesa dos direitos humanos e da dignidade humana", afirmou Bokova.
"É uma perda para a família das Nações Unidas. É uma perda para o multilateralismo", ressaltou a diretora.
Os Estados Unidos já deixaram a Unesco entre 1984 e 2003 e suspenderam sua contribuição financeira em 2011.
Em sua declaração, Bokova lista uma série de medidas adotadas pela Unesco em parceria com os Estados Unidos contra o antissemitismo.
"Juntos, trabalhamos com o falecido Samuel Pisar, embaixador honorário e enviado especial para a educação do Holocausto, a fim de compartilhar a história do Holocausto para lutar contra o antissemitismo e na prevenção dos genocídios, com o Canal Unesco para a educação sobre o genocídio na Universidade da Califórnia e com programas de alfabetização na Universidade da Pensilvânia".
E ainda, "trabalhamos com a OSCE para produzir novas ferramentas para os educadores contra todas as formas de antissemitismo, como fazemos para combater o racismo anti-muçulmano nas escolas".
No início de julho, os Estados Unidos haviam advertido que analisavam seus vínculos com a Unesco, chamando de "uma afronta à história" a sua decisão de declarar a antiga cidade de Hebron, na Cisjordânia ocupada, uma "zona protegida" do patrimônio mundial.
Na ocasião, a embaixadora americana nas Nações Unidas, Nikki Haley, afirmou que esta iniciativa "desacreditava ainda mais uma agência da ONU já altamente discutível".
O Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco inscreveu a Cidade Velha de Hebron nesta lista como um sítio "de valor universal excepcional". Também colocou esta cidade, localizada nos territórios palestinos, na lista de patrimônios em perigo.
Hebron é o lar de 200 mil palestinos e centenas de colonos israelenses, que estão entrincheirados em um enclave protegido por soldados israelenses perto do local sagrado que os judeus chamam de o túmulo dos Patriarcas e os muçulmanos de Mesquita de Ibrahim.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, descreveu a decisão da Unesco como "delirante".
Poucos meses antes, a Unesco havia identificado Israel como uma força de ocupação em Jerusalém.
Os Estados Unidos suspenderam sua participação financeira em 2011 após a admissão da Palestina como um Estado-membro.