Quatro magistrados venezuelanos que estavam refugiados na embaixada do Chile em Caracas desde agosto e depois foram para a Colômbia, chegaram a Santiago nesta quinta-feira (19/10) na qualidade de asilados políticos e foram recebidos pelo chanceler chileno, Heraldo Muñoz.
"O Chile é o país dos asilados (;) Seguiremos com nosso compromisso para que se restaure a ordem democrática na Venezuela", afirmou o chanceler Muñoz depois de receber os quatro magistrados.
[SAIBAMAIS]Os dissidentes, três mulheres e um homem, pediram proteção à sede diplomática chilena alegando perseguição por parte do governo de Nicolás Maduro, quase dois meses depois de deixar seu país para escapar para a Colômbia, onde confirmaram que seriam acolhidos como asilados políticos pelo Chile.
Os juízes Elenis Del Valle, José Fernando Núñez, Zuleima del Valle e Beatriz Ruiz fazem parte de um grupo de 33 juristas nomeados para o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) pelo Parlamento, de maioria opositora. No entanto, Caracas desconhece as ações do Parlamento, declarado em desacato pelo TSJ, acusado pela oposição venezuelana de servir aos interesses de Maduro.
Os juízes serão instalados em um hotel de Santiago, vão receber os documentos necessários para estabelecer residência no país e serão auxiliados para que se organizem financeiramente, uma vez que suas contas bancárias foram congeladas na Venezuela, segundo informou o chanceler Muñoz.
"Fomos obrigados a abandonar nossa querida pátria, mas hoje outra nação nos acolheu e nos protege em liberdade", declarou Elenis Del Valle, que chegou junto com seus colegas José Fernando Núñez, Zuleima del Valle e Beatriz Ruiz.
O juiz Luis Marcano perdeu o voo para a capital chilena, mas deve chegar nas próximas horas.
Cerca de metade dos 33 juristas nomeados ao TSJ abandonaram a Venezuela e se encontram na Colômbia e no Panamá, que também concedeu asilo político a vários magistrados.
Alguns chegaram a ser detidos na Venezuela e posteriormente renunciaram a seus cargos. Outros estão na clandestinidade ou refugiados em embaixadas em Caracas ou em outros países.
O líder opositor Roberto Enríquez, presidente do partido social-cristão Copei, foi o primeiro venezuelano a solicitar proteção na embaixada chilena em abril e segue até hoje na qualidade de "hóspede".
Depois de quase dois meses de confinamento na representação chilena em Caracas, temendo represálias do governo de Maduro por sua dissidência, os magistrados cansaram %u200B%u200Bde esperar o salvo-conduto que o ministério das Relações Exteriores da Venezuela deveria emitir para que deixassem o país, e por essa razão decidiram fugir para a Colômbia na semana passada.
"Tomamos essa decisão importante e arriscada porque estávamos correndo riscos", declarou o juiz Del Valle.
A Venezuela atravessa uma grave crise política e econômica. Mais de uma centena de pessoas foram mortas em manifestações entre abril e julho e muitos opositores do governo de Maduro foram presos.
No último fim de semana foram organizadas eleições para governadores em que o oficialismo venceu de forma contundente. A OEA e os 12 países que integram a chamado Grupo de Lima exigiram uma auditoria "urgente" dos resultados da votação.
A juiza Del Valle afirmou que, juntamente com seus colegas, acredita que um dia poderá retornar ao seu país, mas que enquanto isso "continuarão a lutar para alcançar a democracia, a justiça e a liberdade na Venezuela".
O Grupo de Lima, que condena a ruptura da ordem democrática na Venezuela, voltará a se encontrar no Canadá nas próximas semanas para coordenar novas ações para ajudar a resolver a crise venezuelana.