A primeira-ministra britânica, Theresa May, pediu nesta quinta-feira (19/10) "projetos ambiciosos" para as negociações de divórcio com a União Europeia aos seus sócios, em uma cúpula de dirigentes em Bruxelas, a primeira do colega espanhol, Mariano Rajoy, desde o desafio separatista da Catalunha.
[SAIBAMAIS]May pretende falar do Brexit em um jantar de trabalho, no qual espera uma avaliação dos "avanços concretos" realizados nas negociações de separação e a criação de "projetos ambiciosos para as próximas semanas", indicou, ao chegar a Bruxelas.
Londres pressiona para iniciar as discussões sobre as relações futuras com o bloco, mas os europeus se recusam a passar à segunda fase sem resolver, antes, "as prioridades do divórcio": a conta a ser paga por Londres por sua saída, a situação dos direitos dos cidadãos após o Brexit e a questão da Irlanda do Norte.
Apesar de o objetivo ser autorizar essa segunda fase nesta cúpula, sem a britânica, as lideranças europeias preferiram adiar essa decisão para dezembro, mas, em sinal de boa vontade, autorizaram "discussões preliminares internas" sobre a futura relação, segundo um rascunho de declaração do encontro.
"Não há progressos o bastante para começar" a discutir um eventual acordo de livre-comércio e um período de transição de dois anos após a saída definitiva do Reino Unido, no fim de março de 2019, alertou a influente chanceler alemã, Angela Merkel.
A primeira-ministra britânica prometeu, na véspera, no Facebook, procedimentos "simplificados" para os 3 milhões de cidadãos europeus que vivem no Reino Unido. "Queremos que as pessoas fiquem e queremos que as famílias se mantenham unidas", completou.
Uma fonte europeia indicou que "não haverá nenhuma negociação" no jantar dos líderes. A intervenção de May não deve "dar espaço a nenhum avanço", tinha alertado o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.
Rajoy não fala da Catalunha
Embora o Brexit seja a maior crise política em seis décadas de projeto europeu, a cúpula acontece em meio à tensão na Espanha, cujo governo tenta frear a independência da região da Catalunha.
O governo de Rajoy anunciou, horas antes da cúpula, que vai seguir adiante com a suspensão da autonomia catalã, apesar de, segundo uma fonte diplomática, o mandatário não ter a intenção de falar sobre a questão na reunião, a menos que seja questionado.
Na chegada à cúpula, Rajoy evitou falar com a imprensa, bem como o francês Emmanuel Macron, que estaria expressando uma "mensagem de unidade" com a Espanha diante da crise.
A chanceler alemã, Angela Merkel, Merkel desejou uma "solução (...) baseada na Constituição".
As instituições e os líderes europeus expressaram seu apoio a Madri, considerando que o referendo é ilegal, embora o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, tenha dito que "não há espaço para uma intervenção da UE" na crise entre Madri e Barcelona.
"Não vamos esconder que a situação é preocupante", disse Tusk. "Mas não há espaço para uma mediação, uma iniciativa ou uma ação internacionais", acrescentou, apoiando fortemente a posição de Madri.
Mais cedo, o primeiro-ministro belga, Charles Michel, se destacou, ao criticar a repressão policial durante a votação e defendeu uma mediação.
As declarações não foram bem recebidas em Madri, que convocou o embaixador da Bélgica na Espanha por esses "ataques do governo belga" que poderiam prejudicar "seriamente as relações bilaterais", segundo uma carta enviada pelo governo espanhol, publicada na imprensa belga.
Além do Brexit, os mandatários europeus devem tratar, nesta quinta-feira, de sua política diplomática, com discussões sobre o acordo nuclear com o Irã, bem como a Coreia do Norte e a relação com a Turquia. Um acordo comercial entre o bloco e o Mercosul também está na pauta, a pedido de Macron.