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Presidente argentino sai vitorioso e limita horizontes de Kirchner

A vitória do Cambiemos, a aliança de Macri, é um selo de aprovação para seus dois primeiros anos de administração

Agência France-Presse
postado em 23/10/2017 14:57

O presidente de centro-direita Mauricio Macri foi o grande vencedor das legislativas de meio de mandato na Argentina, uma vitória que abre caminho para sua reeleição em 2019 e dificulta o trabalho para a ex-presidente de esquerda Cristina Kirchner.

[SAIBAMAIS]A vitória do Cambiemos, a aliança de Macri, é um selo de aprovação para seus dois primeiros anos de administração. Para Kirchner, no entanto, o revés foi amargo, tendo sido derrotada por Esteban Bullrich, um ex-ministro de Macri sem carisma.

Apesar de tudo, a ex-presidente foi eleita senadora na província de Buenos Aires, onde 40% do eleitorado nacional está concentrado, o que lhe dá imunidade parlamentar agora que é acusada de corrupção.

"Esta eleição consolida o governo. Cambiemos ainda é a primeira minoria no Congresso, mas a aliança é mais robusta, com mais votos e maior cobertura territorial", afirma o sociólogo Gabriel Puricelli.

De acordo com o analista, Macri "obtém a ratificação do seu mandato".

"Significa que o eleitorado acompanha o programa do governo, manifesta sua satisfação", acrescentou.

Desde a sua chegada ao poder, o presidente descreveu como desastroso o balanço dos 12 anos do governo de Néstor Kirchner (2003-2007) e Cristina Kirchner (2007-2015), dizendo que recebeu "um país em ruínas".

Para Puricelli, o domingo foi "um voto político, não econômico". As pesquisas revelam que as pessoas estão otimistas quanto ao futuro econômico".

2019: condições favoráveis


Macri aboliu o controle de câmbio, desvalorizou a moeda, reduziu os subsídios aos serviços públicos como água, eletricidade e gás, encerrou um litígio de dívida pública com os fundos "abutres" e orquestrou o retorno da Argentina aos mercados de capitais internacionais.

Durante esse período, a inflação anual atingiu 40% em 2016, afetando a maioria dos 41 milhões de argentinos. O aumento dos preços se atenuou, mas já soma 17% nos primeiros nove meses de 2017.

As reivindicações eram muitas, mas não suficientes para colocar o governo em xeque.

De acordo com o cientista político Roberto Bacman, Macri "amplia seu poder ao ganhar em 14 das 24 províncias, e conseguiu a façanha de vencer nas cinco províncias mais populosas do país", que em conjunto representam 70% dos eleitores.

É cedo para pensar nas eleições presidenciais de 2019, mas todos já começam a comentar.

"As condições são muito favoráveis %u200B%u200Bpara 2019. Politicamente, está na melhor posição para uma eleição. Em termos econômicos ainda tem problemas", aponta Bacman.

O cientista político Ricardo Rouvier adverte que o governo deve melhorar a situação econômica "porque diante de uma oposição fraca, é a economia que se torna oposição".

Peronismo dividido


A vitória do oficialismo foi facilitada pela divisão do peronismo, movimento criado nos anos 1940 pelo general Juan Perón, do qual Cristina Kirchner faz parte.

O peronismo está fragmentado e não parece haver perspectivas de união.

Para o cientista político Ignacio Zuleta, "Cristina Kirchner venceu, mas o peronismo perdeu".

A ex-presidente foi eleita, mas sua imagem constitui um obstáculo a uma união deste movimento que reuniu presidentes de esquerda (os Kirchner) e outros mais à direita (Carlos Menen, 1989-1999).

Sozinha, à frente do partido Unidad Ciudadana, Cristina Kirchner recebeu mais de três milhões de votos (37%). Um resultado relevante, mas sem grande margem de crescimento.

Eleita em 2015, para surpresa geral, como governadora da província de Buenos Aires, María Eugenia Vidal, de 44 anos, fez campanha como se fosse candidata e sua popularidade favoreceu a vitória de Esteban Bullrich contra Kirchner.

A ex-presidente pode tentar um terceiro mandato presidencial em 2019, mas seu alto nível de rejeição parece dificultar tais ambições.

Em 2019 ela terá 66 anos e, "nas condições atuais, perderia. Seu espaço político perdeu terreno em comparação a 2015", acredita Gabriel Puricelli.

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