Antoni Castellà, deputado da coalizão governante na Catalunha "Junts Pel Sí", veterano da luta separatista, não hesitou em usar esse tom ante os militantes da Assembleia Nacional Catalã (ANC). "O mundo está nos olhando", disse Castellà ante 250 membros da ANC.
Seu máximo dirigente, Jordi Sánchez, está na prisão em Madri à espera do julgamento, acusado de sedição. "É uma batalha entre a democracia e o totalitarismo. Me atreveria a dizer que é uma grande batalha entre o Bem e o Mal", diz Castellà aos militantes. Ninguém pestaneja, no auditório reina um silêncio carregado de emoção.
Às portas do Orfeó Gracienc, no coração de Barcelona, onde ocorreu a reunião da ANC na noite de terça-feira (24/10), havia outras 200 pessoas esperando para entrar. A organização teve que criar dois turnos para receber todos.
[SAIBAMAIS]A reunião foi convocada para preparar "a resistência civil", e fala-se fala abertamente em ir às portas do Parlamento catalão a partir de quinta-feira (26/10), quando começará uma plenária especial.
São dias carregados de simbolismo: em Madri o Senado abre o debate sobre o Artigo 155 da Constituição, que permite suspender a autonomia regional. Em Barcelona os deputados catalães foram convocados pelo mesmo motivo.
Na sexta-feira (27/10) poderá acontecer uma votação quase simultânea em ambas as Câmaras. Uma para suspender a autonomia catalã e outra, em Barcelona, para deixá-la para trás e proclamar a independência.
No olho do furacão, o presidente catalão, Carles Puigdemont, tem em suas mãos a possibilidade de convocar eleições regionais para diminuir a tensão.
O Artigo 155 é uma medida inédita na história recente da Espanha e um terremoto para a Catalunha, que recuperou o seu autogoverno junto com o retorno da democracia ao país.
Mas para as pessoas reunidas no Orfeó Gracienc nada disso conta mais. Agora trata-se de ir em frente, custe o que custar. Em 10 de outubro, Puigdemont declarou, mas deixou em suspenso os efeitos dessa esperada independência.
Em seu discurso ante a audiência, Castellà não menciona a possibilidade de eleições. "Que grande força tivemos até agora como catalães? Com mobilizações cívicas e pacíficas", declarou à AFP Castellà.
"Temos que estar dispostos, digamos assim, com as agendas livres, para estar mais uma vez ao lado das instituições e defendê-las", acrescenta.
;Uma imagem vale mais que mil manifestantes;
A mobilização também é vista em uma assembleia convocada quase na mesma hora em outro extremo da cidade, no popular bairro de Sant Andreu.
A formação de extrema esquerda Candidaturas de Unidade Popular (CUP) reuniu 60 pessoas após um encontro a portas fechadas com seus ativistas para preparar as medidas.
"Nos próximos três dias haverá convocações em frente ao Parlamento. Devem se somar a qualquer mobilização que exista desde a manhã", afirmou na reunião Eulàlia Reguant, ex-deputada da CUP.
Nesta quarta-feira (25/10) foi convocada uma marcha até a sede da Generalitat.
Sindicatos estudantis preveem uma greve na quinta-feira.
Nas redes sociais também circulam propostas contra a independência para a plenária do Parlamento catalão.
A única manifestação convocada até agora oficialmente pelos anti-independentistas está marcada para domingo (29) pela Sociedade Civil Catalã.
"Uma imagem vale mais que mil manifestantes", explica um decálogo de resistência civil que circula pelas redes sociais. Devem filmar qualquer tipo de violência e divulgá-la.
"Em caso de agressão devem se manter firmes e em silêncio. Devem aguentar os golpes, virando de costas e protegendo o rosto e a cabeça com os braços", acrescenta o texto.
O decálogo foi distribuído pela "En peu de Pau" ("Em pé de paz"), oficialmente uma iniciativa criada por bombeiros, camponeses e estudantes, que se esforça para apresentar a imagem pacifista deste turbilhão político.
"É difícil controlar a raiva e a ira (...). Estamos contendo as pessoas", assegurou à AFP Marc Ferran, bombeiro voluntário, depois de uma reunião da "En peu de Pau" em Barcelona.