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Começa eleição presidencial no Quênia, boicotada pela oposição

Em Kibera, nos arredores de Nairóbi, a polícia lançou gás lacrimogêneo e disparou para o ar com o objetivo de dispersar os manifestantes


"Estou preocupado porque as pessoas estão sendo obrigadas a ficar em casa, porque têm medo de serem atacadas", lamentou. Ao menos 40 pessoas morreram desde 8 de agosto, em sua maioria em razão da repressão da polícia, segundo organizações humanitárias. Desde então, o clima político é de grande tensão.

Em 8 de agosto, Kenyatta venceu com 54,27% dos votos, contra 44,74% para Odinga. Mas a votação foi invalidada após as muitas denúncias de fraudes, e a Constituição prevê a realização de uma nova consulta, algo inédito no continente africano. O Supremo Tribunal justificou sua decisão pelas irregularidades na transmissão dos resultados, sem culpar nenhuma parte, caindo a responsabilidade sobre a Comissão Eleitoral.

Odinga, que foi candidato à Presidência em 1997, 2007 e 2013, pressionou a Comissão para que realizasse reformas, e, por fim, considerou as medidas adotadas como insuficientes. O presidente da Comissão Eleitoral, Wafula Chebukati, admitiu recentemente que a instância não era capaz de garantir eleições justas.

Odinga utilizou este pretexto para anunciar em 10 de outubro que se retirava da eleição, um passo que não foi formalizado. Seu nome segue nas cédulas de voto, junto com o de Kenyatta e de seis outros candidatos. O principal rival de Kenyatta denunciou na quarta-feira uma "ditadura" e cobrou a criação de um "movimento nacional de resistência contra a autoridade ilegítima do governo".

No Quênia o voto é exercido mais em função do pertencimento étnico e geográfico do que em relação a programas de governo. Esta crise política expõe novamente as profundas divisões sociais, geográficas e étnicas que atravessam o país e seus 48 milhões de habitantes.