O governo da Venezuela realizou este ano uma "cruel" campanha de repressão contra suspeitos de dissidência, com operações ilegais e ataques violentos à vida privada, denunciou a Anistia Internacional (AI) nesta segunda-feira (30/10).
"As autoridades venezuelanas ampliaram o seu arsenal de táticas repressivas, realizando uma cruel campanha de operações de busca e apreensão ilegais em casas de pessoas suspeitas de dissidência", indicou a organização internacional de defesa dos direitos humanos.
[SAIBAMAIS]Em seu relatório "Noites de terror: ataques e operações de busca e apreensão ilegais a casas na Venezuela", a AI disse que o agravamento dessas práticas ocorreu entre abril e julho, no auge dos protestos contra o governo de Nicolás Maduro.
Nesses meses, as manifestações diárias para exigir a saída do presidente, violentamente reprimidas pelas forças de ordem, deixaram 125 mortos, centenas de feridos e detidos, e derivaram em roubos e vandalismo.
Em seu relatório, a AI dá conta de ao menos 47 operações de busca e apreensão por parte de agentes de segurança sem uma ordem judicial, ocorridas em 11 estados entre abril e julho.
Essas ações, que podiam durar horas ou a noite inteira, costumavam ser acompanhadas de ameaças de morte, violência verbal ou física, de destruições da propriedade privada, e roubos, disse a ONG.
Essas "arbitrariedades e violações ao direito à vida privada, à liberdade, à integridade pessoal e ao devido processo" já haviam sido documentadas antes na Venezuela, mas agora "parecem ter adquirido dimensões maiores que fazem parte de uma política de repressão por parte do Estado venezuelano", apontou a AI.
"As autoridades venezuelanas descobriram uma forma nova e inquietante de reprimir a dissidência em seu afã, aparentemente interminável, de causar medo na população. Levaram a repressão das ruas para as salas de estar de casas particulares", disse Erika Guevara-Rosas, diretora da AI para as Américas, citada em comunicado.
Segundo o relatório, estas operações e estes ataques afetaram milhares de pessoas, que ficaram "totalmente desprotegidas ante as atuações das forças de segurança e de grupos civis armados adeptos a isso".
A AI também reportou a destruição de evidências pelos responsáveis por essas ações.
Maduro foi acusado por seus adversários e alguns países como os Estados Unidos de ter instaurado uma "ditadura" na Venezuela, com o apoio de uma Assembleia Nacional Constituinte eleita no fim de julho, completamente governista e tachada de fraudulenta pela empresa que forneceu a tecnologia eleitoral.