Agência France-Presse
postado em 31/10/2017 12:33
Bruxelas, Bélgica - O presidente separatista destituído da Catalunha, Carles Puigdemont, defendeu nesta terça-feira (31/10) que os cidadãos participem nas eleições catalãs convocadas pelo governo central de Madri e pediu que se "desacelere" o processo de independência regional para evitar a violência na região. Puigdemont esclareceu ainda que não irá pedir asilo político na Bélgica.
"Não estou aqui para pedir asilo político", mas "para poder reagir com liberdade e segurança", disse Puigdemont em uma coletiva de imprensa quatro dias após a proclamação de independência da região autônoma, e um dia depois de a Procuradoria espanhola anunciar que irá processá-lo por rebelião e sedição, o que poderia resultar em 30 anos de prisão.
Ele não esclareceu quanto tempo permanecerá em Bruxelas, ao falar de falta de garantias na Espanha. O primeiro-ministro belga, Charles Michel, assegurou nesta terça que Puigdemont "será tratado como qualquer cidadão europeu, com os mesmos direitos e deveres, nem mais nem menos".
O líder separatista, que afirma ser o legítimo presidente da Catalunha, defendeu desacelerar o processo de secessão para evitar males maiores em resposta à ofensiva política e judicial do governo central de Mariano Rajoy.
"Não se pode construir a república de todos com base na violência", disse Puigdemont, acrescentando: "Se essa atitude tem como preço desacelerar a implantação da república, devemos considerar que esse é um preço razoável". Finalmente, Puigdemont convidou os separatistas a participar das eleições regionais de 21 de dezembro, eliminando a dúvida sobre se boicotaria a votação convocada pelo governo central espanhol.
"As eleições do dia 21 são um desafio que assumimos com todas as nossas forças", disse Puigdemont, pedindo a Madri que respeite o resultado das eleições caso vencessem as eleições novamente. A última aparição pública do líder catalão aconteceu no sábado, no dia seguinte à proclamação da república no Parlamento catalão, ignorando as advertências do governo e da justiça espanholas.
Depois, Puigdemont viajou para Bruxelas, sem fornecer explicações.Em uma Catalunha profundamente dividida sobre a independência, e com a oposição frontal do governo espanhol e da União Europeia à separação, a proclamação de independência não se traduziu em nada concreto.
Independência desvanece
Na região autônoma é crescente o sentimento de fracasso da proclamação de independência, e os principais partidos separatistas já confirmaram que vão participar nas eleições de 21 de dezembro.
É "uma oportunidade a mais para sermos ouvidos, fazer-nos ouvir em todos os lugares. Somos os defensores da democracia", disse à televisão catalã TV3 Oriol Junqueras, o vice-presidente catalão destituído e líder do ERC (Esquerda Republicana da Catalunha), que lidera as pesquisas.Um membro do Executivo de Puigdemont que renunciou na quinta-feira por não concordar com uma declaração unilateral, Santi Vila, enfatizou que a proclamação da independência fracassou.
"Vamos analisar os fatos, se você precisa pegar um avião, fará o que fará", disse à RAC1, aludindo ao fato de que não há controle de fronteiras. "Não creio que possamos usar a palavra enganação, mas é verdade que tenho colegas do governo que mostraram uma ingenuidade que surpreende pela idade que têm".
Causas judiciais contra os separatistas
Na Espanha, a Justiça segue atuando contra os líderes separatistas. O Tribunal Constitucional espanhol suspendeu de forma cautelar, nesta terça-feira, a declaração de independência da Catalunha, ao acatar um recurso apresentado pelo governo espanhol, segundo informou uma fonte judicial.
"A plenária do tribunal acaba de suspender cautelarmente a declaração de independência", disse a mesma fonte. Além disso, a presidente destituída do Parlamento catalão, Carme Forcadell, vai ser convocada em breve pelo Supremo Tribunal espanhol para ser indiciada.
Um magistrado convocou Carme Forcadell e os cinco outros membros do gabinete de presidentes do Parlamento catalão, indicou uma fonte judicial. Eles são esperados nos dias 2 e 3 de novembro, acompanhados de seus advogados.
Finalmente, a Guarda Civil realizou buscas na sede da polícia catalã e suas delegacias em busca de dados sobre suas comunicações no dia do referendo inconstitucional de 1; de outubro, indicou à AFP um porta-voz do corpo.
O papel da polícia catalã foi criticado por fontes da Guarda Civil que a acusou de não cumprir as ordens de impedir o referendo. Josep Lluis Trapero, chefe da polícia catalã destituído no marco da intervenção da Catalunha por parte do governo central, está em liberdade provisória após ser indiciado por sedição.