Mais de 200 pessoas foram presas na Arábia Saudita como parte da operação anticorrupção sem precedentes realizada recentemente no reino, informou nesta quinta-feira (9/11) em um comunicado o procurador-geral do país.
Ministros, empresários e príncipes, incluindo o bilionário Al-Walid bin Talal, estão entre os detidos ou demitidos na semana passada nesta operação, que diz respeito a desvios de fundos que chegariam a 100 bilhões de dólares em dez anos.
[SAIBAMAIS]"Um total de 208 pessoas foram convocadas para interrogatório até o momento. Dessas 208 pessoas, sete foram liberadas sem acusação. A amplitude potencial dos atos de corrupção revelados é enorme", indicou o ministério da Informação em um comunicado.
A operação foi lançada após o estabelecimento de uma nova comissão anticorrupção presidida pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salmane.
E acontece em um tenso contexto regional, com a Arábia Saudita e o Irã em lados opostos pela guerra no Iêmen, e uma possível crise política no Líbano após a renúncia do primeiro-ministro Saad Hariri, atualmente em Riad.
As autoridades sauditas congelaram as contas bancárias dos acusados e anunciou que qualquer atividade relacionada a temas de corrupção seria confiscada como propriedade do Estado.
"Segundo nossas investigações, calculamos que ao menos 100 bilhões de dólares foram desviados através de atos de corrupção", ressaltou o ministério.
Os detidos serão julgados por um tribunal, segundo garantiu na segunda-feira o procurador-geral do reino.
Com o expurgo que os analistas descrevem como um ousado, e arriscado, jogo de poder, o príncipe Mohamed parece querer centralizar o poder em um nível sem precedentes na história recente de seu país.
"Apesar dos meios de comunicação sauditas apresentarem essas medidas como uma campanha contra a corrupção, as detenções em massa sugerem que se trata mais de uma luta pelo poder", considerou na quarta-feira a organização Human Rights Watch (HRW).
O príncipe Mohamed, filho do rei Salman, é considerado o líder de fato da monarquia governante. Controla as principais instâncias de poder, desde a defesa até a economia, e parece disposto a acabar com qualquer oposição interna antes que seu pai, de 81 anos, entregue a ele o poder.
A operação coincide com o lançamento de um amplo plano de reformas, o "Visão 2030", com o qual o príncipe Mohamed pretende modernizar o reino e diversificar sua economia, que depende em grande medida do petróleo, cujo preço despencou nos últimos tempos.
Além desses movimentos internos, a monarquia sunita afronta um clima político e diplomático cada vez mais tenso no Oriente Médio, especialmente com o Irã xiita.
Após um ataque frustrado contra o aeroporto de Riad no sábado, reivindicado pelos rebeldes huthis do Iêmen, apoiados pelo Irã, a Arábia Saudita acusou Teerã de uma "agressão direta".
O Irã rejeitou as acusações de que fornece mísseis aos rebeldes xiitas e advertiu a Arábia Saudita do "poder" iraniano.
A agitação regional se tornou explícita na semana passada no Líbano quando Hariri renunciou ao criticar o "controle" exercido pelo Irã em seu país, chegando a afirmar que temia por sua vida.
Neste contexto, Riad pediu nesta quinta-feira aos seus cidadãos que deixem o Líbano "o mais rapidamente possível".
A última disputa entre Riad e Teerã poderia complicar ainda mais a guerra travada por procuração no Iêmen e na Síria, onde apoiam lados opostos.