Três anos depois de ter conquistado vastos territórios na Síria e no Iraque, o grupo ultrarradical sunita não passa de uma sombra do que foi no terreno, depois de ter sido expulso de todas as grandes cidades que chegou a controlar nos dois países.
[SAIBAMAIS]Na quinta-feira (9/11), os extremistas tinham perdido a sua última cidade na Síria, Bukamal, sem grande importância perto da fronteira com o Iraque.
Mas no dia seguinte a esta derrota para o Exército sírio e seus aliados, "o EI contra-atacou durante a noite e recuperou 40% da cidade", afirmou Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Após ter recuado na província de Deir Ezzor diante da ofensiva do governo e de outra executada por uma coalizão curdo-árabe, os extremistas se entrincheiraram em Bukamal, perto da fronteira com o Iraque.
No começo de novembro, o EI perdeu a cidade de Deir Ezzor, capital da província homônima e última grande cidade sob seu controle na Síria e no Iraque. Foi recuperada por Damasco com o apoio crucial de seus aliados russo, iraniano e do Hezbollah libanês.
Apesar de Bukamal ser uma cidade menor do que Deir Ezzor, sua retomada privaria o EI da última região urbana de seu "califado", autoproclamado em 2014 nos amplos territórios conquistados entre Iraque e Síria
EI quer continuar existindo
Ao contra-atacar em Bukamal, o EI parece querer provar que continua a existir. E, apesar das sucessivas derrotas no terreno, a organização continua sendo capaz de inspirar atentados mortais em todo o mundo.
O mistério continua a cercar o seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, que se manifestou pela última vez em uma gravação de áudio difundida em 29 de setembro.
Na ocasião, chamou seus combatentes a "resistir".
O EI ainda está presente em cerca de 20 cidades no Vale do Eufrates, e é alvo de duas ofensivas distintas nesta província.
Uma é conduzida pelo Exército do presidente Bashar al-Assad, e a outra pelos combatentes curdos e árabes das Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas por Washington.
O EI também está ativo em dois bairros de Damasco e em localidades do centro e do sul do país.
Frente ao seu desmantelamento, o regime sírio apoiado pela Rússia e os curdos, apoiados pelos Estados Unidos, surgem como os grandes vitoriosos do conflito.
Em Deir Ezzor, as tropas do governo operam na margem leste do rio e controlam 38% da província rica em petróleo.
Na margem leste, as FDS controlam 32% da província.
Nesta sexta-feira, tomaram quatro aldeias ao longo do rio Eufrates. A coalizão antijihadista liderada pelos EUA indicou recentemente que o número de ataques aéreos na Síria e no Iraque estava em queda livre devido ao colapso do EI.
Após o grupo ultrarradical ser completamente expulso da província de Deir Ezzor, o exército do regime e as SDF vão se encontrar, aumentando o risco de colisão ou mesmo confronto entre as duas partes rivais.
De acordo com analistas, o regime vai procurar recuperar os territórios ou cidades conquistados pela FDS, como Raqa.
Em seis anos de guerra, o regime conseguiu recuperar o controle de 52% do país. Ao contrário dos primeiros anos de guerra, muito poucos países hoje exigem a partida do presidente Bashar al-Assad.
Deflagrado com manifestações reprimidas pelo governo Bashar al-Assad, o conflito na Síria se tornou uma complexa guerra com múltiplos atores estrangeiros. Mais de 330.000 pessoas morreram, e milhões de sírios se viram obrigados a abandonar suas casas.
A rebelião contra Assad já quase inexiste, perdendo terreno principalmente após a entrada da Rússia no conflito, em 2015.