O expurgo sem precedentes realizado na Arábia Saudita em nome da luta contra a corrupção começa a causar "preocupação" em Washington, poucos dias depois que o presidente Donald Trump expressou seu apoio total à operação de seu aliado saudita.
Mais de 200 pessoas foram presas em 4 de novembro como parte de um expurgo, que incluiu príncipes, ministros e empresários.
[SAIBAMAIS]A operação foi conduzida após o estabelecimento de uma nova comissão anticorrupção presidida pelo jovem príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, cujo controle sobre o regime está crescendo a cada dia.
Nesta sexta-feira (10/11), o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, afirmou que o expurgo tem provocado "algumas preocupações".
"Falei com o ministro (saudita) das Relações Exteriores, Adel al-Jubeir, para esclarecimentos, e acredito que, com base nessa conversa, a intenção é boa", resumiu Tillerson no avião que o conduziu a Danang, no Vietnã.
"Pessoalmente, acho que causa certa preocupação, enquanto não tivermos clareza do que vai acontecer com esses indivíduos [presos]", acrescentou.
As personalidades presas - detidas em um local não informado pelas autoridades - serão julgadas por um tribunal, de acordo com o procurador-geral saudita.
Ontem, as autoridades do reino revelaram os primeiros resultados da "campanha anticorrupção".
"No total, 208 pessoas foram interrogadas até agora. Desses indivíduos, sete foram postos em liberdade sem acusações contra eles", informou o Ministério da Informação.
"Segundo nossas investigações dos últimos três anos, calculamos que pelo menos 100 bilhões de dólares foram desviados por uma corrupção e uma malversação sistemáticas durante várias décadas", acrescentou.
;Eles sangram o país;
Na segunda-feira, o presidente Trump expressou seu apoio total a essas prisões.
O rei Salman e o príncipe herdeiro "sabem exatamente o que estão fazendo", tuitou Trump, alegando que "alguns deles ;sangram; seu país há anos".
Esse apoio do presidente americano aos líderes sauditas, especialmente contra o Irã, o inimigo comum, preocupa observadores e especialistas da região, que consideram a atitude muito arriscada.
O príncipe Mohamed, filho do rei Salman, é considerado o líder de facto da monarquia governante. Controla as principais instâncias de poder, da Defesa à Economia, e parece disposto a acabar com qualquer oposição interna antes que seu pai, de 81 anos, entregue o poder a ele formalmente.
Esse expurgo ocorre em um tenso contexto regional, com Arábia Saudita e Irã enfrentados pela guerra no Iêmen e uma possível crise política no Líbano após a renúncia do primeiro-ministro Saad Hariri, anunciada em Riad.
Situado na Península Arábica e um dos países mais pobres do globo, o Iêmen é palco da pior crise humanitária do mundo, de acordo com a ONU.
Após um ataque frustrado contra o aeroporto de Riad no sábado, reivindicado pelos rebeldes huthis do Iêmen, apoiados pelo Irã, a Arábia Saudita acusou Teerã de uma "agressão direta".
O Irã rejeitou as acusações de que fornece mísseis para os rebeldes xiitas e advertiu os sauditas do "poder" iraniano.
Diante do risco de conflagração, o presidente francês, Emmanuel Macron, fez uma visita surpresa à Arábia Saudita, onde se reuniu com o príncipe-herdeiro.
Em um comunicado, o Palácio do Eliseu ressaltou que os dois homens conversaram "longamente sobre a importância de preservar a estabilidade da região, lutar contra o terrorismo e, sobretudo, trabalhar pela paz".
Além disso, Macron "lembrou da importância que a França confere à estabilidade, segurança, soberania e integridade do Líbano".
Na semana passada, o primeiro-ministro libanês, Saad Hariri, de visita a Riad, renunciou ao cargo, ao criticar o "controle" exercido pelo Irã em seu país, chegando a afirmar que temia por sua vida.
Diante da situação no Líbano, na quinta-feira, Arábia Saudita e Kuwait pediram a seus cidadãos que deixem o "Líbano o quanto antes" e que não viajem para esse país. Nenhuma ameaça específica foi citada nos respectivos comunicados.