Agência France-Presse
postado em 18/11/2017 10:40
Harare - Milhares de manifestantes saíram neste sábado (18/11) às ruas de Harare para pedir que o presidente Robert Mugabe, cada vez mais abandonados por seus aliados, deixe o poder no Zimbábue, em uma mobilização apoiada pelo exército, que assumiu esta semana o controle do país.
"É muito tempo, Mugabe tem que sair;, "Descansa em paz Mugabe", e "Não à dinastia Mugabe" eram cartazes exibidos pelos manifestantes, a maioria deles negro, mas também muitos brancos, algo pouco comum.
Estas manifestações contra Mugabe, que começaram de forma pacífica na manhã deste sábado, encerram uma semana de crise política sem precedentes no Zimbábue, onde as Forças ARmadas tomaram o controle do país e colocaram em prisão domiciliar o chefe de Estado no poder desde 1980.
A intervenção do exército representa uma guinada no longo reinado de Mugabe, marcado pela repressão de qualquer oposição e uma grave crise econômica.
Com 93 anos, o decan dos chefes de Estado em atividade está cada vez mais isolado, depois que seus mais fieis aliados o abandonaram: depois do exército e dos vetereanos da guerra da independência foram as seções regionais do partido presidencial Zanu-PF que, na noite de terça, pediram que ele abandonasse o poder.
"Tenho 30 anos. Imagine, nunca trabalhei. Isso por culsa do regime de Mugabe. Por isso pedimos mudança", explicou um manifestante, Kelvin Shonhiwa, un manifestante.
Stephanus Krynauw, um fazendeiro branco expulso durante a polêmica reforma agrária realizada por Mugabe em 2000, também foi às ruas. "Há muito tempo que algo assim não acontecia, estarmos todos juntos", explicou, referindo-se à maioria negra e à minoria branca, descendente dos colonos britânicos.
O protesto foi organizado pelos veteranos da guerra da independência - importantes atores da vida política do país - e movimentos da sociedade civil, entre eles o ThisFlag, do pastor Ewan Mawarire, uma das figuras-chave do movimento contra Mugabe reprimido em 2016 pelas forças de segurança.
Os militares estavam presentes nas ruas de Harare, mas, desta vez, os manifestantes os saudavam e apertavam suas mãos. Alguns, inclusive, tiravam fotos junto ao chefe do Estado-Maior, o general Constantino Chiwenga.
- Possível sucessor -
Na véspera, o ex-vice-presidente do Zimbábue Emmerson Mnangagwa, cuja destituição provocou um golpe militar, voltou ao país. Considerado até pouco tempo como sucessor de Mugabe, fugiu do Zimbábue após sua destituição em 6 de novembro por "deslealdade" para com o presidente.
Na quinta-feira retornou a Harare, a capital do país, confirmou à AFP um de seus parentes, algumas horas depois de o exército deixar as ruas e liberar Mugabe.
Seu nome é um dos mais fortes para conduzir uma transição que encerraria o reinado de Mugabe.
De acordo com a Constituição do Zimbábue, em caso de destituição, morte ou impedimento do presidente para exercer suas funções, seu sucessor é o vice-presidente até que haja novas eleições.
Mas Mugabe se nega a renunciar, conforme transcendeu após uma reunião com o o general Constantino Chiwenga.
Na sexta-feira, Mugabe apareceu pela primeira vez em público desde o golpe militar, um novo sinal de sua intenção de se manter no poder, ao participar de uma cerimônia de entrega de diplomas na Universidade de Harare.
Na quarta-feira de madrugada, o exército do Zimbábue tomou o controle de Harare, em uma operação sem vítimas, para apoiar Mnangagwa, transformado no principal inimigo da primeira-dama, Grace Mugabe.
Foi a ambiciosa esposa do presidente que fez Mnangagwa cair no início deste mês, uma estratégia para deixar o caminho livre para ela se tornar a sucessora de seu marido.
Os militares, que desempenharam um papel fundamental na independência do Zimbábue em 1980.
O Zanu-PF, no poder desde a independência do país em 1980, está dividido em duas facções, o "G40" (uma referência a uma geração de líderes de cerca de 40 anos), que apoiam Grace Mugabe, e a chamada facção Lacoste, fiel a Mnangagwa, apelidado de "Crocodilo".