Agência France-Presse
postado em 21/11/2017 19:46
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi duramente criticado nesta terça-feira (21/11), após o anúncio do fim da concessão de vistos de residência temporária para cerca de 59 mil imigrantes haitianos, benefício concedido após o devastador terremoto de 2010 no país caribenho.
[SAIBAMAIS]"O Haiti não está pronto", é a mensagem de haitianos, de ativistas dos direitos humanos e de políticos.
Os críticos alegam que, ao contrário do que diz o governo Trump, o Haiti não está em condições de ser retirado do programa humanitário Status de Proteção Temporária (TPS, na sigla em inglês), o qual permite que cidadãos de países devastados por desastres naturais, ou por conflitos armados, morem nos Estados Unidos, enquanto a situação não estiver segura o suficiente para voltarem para casa.
"O Haiti é um manual sobre por que continuar o TPS", defendeu Marleine Bastien, diretora da FANM, a principal organização da diáspora haitiana, concentrada na Flórida.
Ainda há deslocados do sismo de 2010, que matou mais de 200 mil pessoas, assim como do furacão Matthew, que atingiu a ilha no ano passado. Os furacões Irma e María provocaram mais danos há apenas alguns meses. A epidemia de cólera deixou 1,2 milhão de pessoas contaminadas, e ainda falta infraestrutura de acesso à água potável. Além de tudo isso, "há uma alta instabilidade política", enumera.
"Os Estados Unidos sabem que o Haiti não está pronto. Querem deportar os haitianos para que morram lá", afirma.
Cerca de 300 pessoas protestavam nas imediações do clube Mar-a-Lago de Trump, em West Palm Beach, onde o presidente era esperado hoje para passar o feriado de Ação de Graças.
"Estamos aqui para ficar! O que queremos? Re-si-dên-cia", reivindicavam os manifestantes, condenando a decisão anunciada na véspera pelo Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês). Agora, os haitianos beneficiários do TPS têm até julho de 2019 para buscar um status migratório alternativo, ou voltar para casa.
- Asilo no Canadá -
O fim do TPS para o Haiti - que afeta cerca de 59 mil cidadãos e seus cerca de 30 mil filhos nascidos nos Estados Unidos - "dividirá dezenas de milhares de famílias", disse Gimena Sánchez, do Washington Office on Latin America (Wola).
Congressistas democratas e republicanos também questionam a decisão. É "desmedida", tuitou o senador democrata pela Florida, Bill Nelson.
"Precisamos de uma solução legislativa permanente", tuitou.
"Discordo completamente da ideia de que a situação no Haiti tenha melhorado", afirmou a líder democrata da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi.
O congressista republicano Mario Díaz-Balart, de Miami, concordou.
"Obrigá-los a deixar os Estados Unidos seria prejudicial. Quase oito anos depois, o Haiti permanece em total caos e ainda requer muita reconstrução", avaliou.
"Peço ao governo que reconsidere sua decisão em relação aos cidadãos haitianos e nicaraguenses", acrescentou.
O TPS beneficia mais de 300 mil pessoas de cerca de dez países, a maioria centro-americana. Há duas semanas, o governo Trump anunciou o fim do programa para a Nicarágua e disse que "é possível" que Honduras também perca sua designação, prorrogada até julho de 2018. Em janeiro, deve se pronunciar sobre o futuro de cerca de 195 mil salvadorenhos.
Milhares de haitianos viajaram nos últimos meses para a fronteira com o Canadá para pedir asilo.
"Estamos preparados para todos os cenários imagináveis", garantiu nesta terça o ministro canadense de Segurança Pública, Ralph Goodale.
"Os americanos nos indicaram (...) que farão de tudo para nos impedir. E parece, após o anúncio de ontem, que querem fazer as coisas gradualmente e acordar adiamentos (...). Isso é muito valorizado", disse Goodale.
"Obviamente, estaremos prontos para fazer frente às circunstâncias. Temos há algum tempo, em acordos com províncias e municípios, um plano de urgência para garantir (...) a aplicação de todas as leis canadenses (...) e o respeito das obrigações internacionais" do Canadá, completou.
Durante o verão do Hemisfério Norte, milhares de imigrantes, sobretudo haitianos, cruzaram a fronteira canadense, procedentes dos Estados Unidos, para pedir asilo.