Ana Carolina Fonseca*
postado em 22/11/2017 19:26
Em 22 de novembro de 2005, Angela Merkel deu início ao primeiro de três mandatos consecutivos como chanceler da Alemanha, cargo político mais importante do país. E, atualmente, de toda a Europa. Merkel é considerada por especialistas como a líder de fato da União Europeia e uma das pessoas mais influentes do mundo. Entretanto, mesmo com taxas de aprovação ainda altas, a política, natural de Hamburgo, vem enfrentando dificuldades nos últimos anos e este pode ser o início do fim da era Merkel.
O professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Argemiro Procópio, que já morou e trabalhou na Alemanha, aponta que as tribulações de Merkel têm origem nas recentes políticas divisivas ; e polêmicas ; adotadas pela líder, que ganhou o apelido de "Mama Merkel". Em 2016, o número de pessoas de origem imigrante no país subiu 8,5% e chegou a 18,6 milhões. Os principais descontentes são os partidários e apoiadores da , que rechaçam a política de portas abertas a migrantes e refugiados. Por outro lado, a medida foi vista com bons olhos pelo Papa Francisco e aplaudida pelas igrejas, tanto a Católica quanto a Luterana.
A reprovação está claramente ligada ao receio quanto a atos terroristas, frequentemente registrados na Europa. Para além da polêmica da abertura das fronteiras e das críticas da oposição, Procópio argumenta que o atentado recente em Berlim abalou Merkel, uma líder normalmente serena, na opinião do pesquisador. Esses fatores têm contribuído para o crescimento da representatividade da extrema-direita nas esferas políticas, o que dificulta a composição do governo de Merkel.
Apesar das controvérsias, o professor universitário acredita que a política de portas abertas foi positiva para a Alemanha: "Levou uma população jovem e trabalhadora para um país que estava envelhecendo. Essa população em idade extremamente produtiva vai satisfazer parte das demandas do país", projeta.
A economia e o desenvolvimento foram marcos do governo Merkel, conhecido pela prosperidade e estabilidade. Entre as melhorias no país, o professor lembra o crescimento das exportações, o investimento em ciência e tecnologia e a contribuição para a indústria aeronáutica europeia. Segundo Procópio, parte da responsabilidade pelo crescimento da Alemanha está na figura da chanceler, conhecida por ser uma mulher austera e um ícone anticorrupção.
Além disso, Angela Merkel tem também uma personalidade conciliatória e foi capaz de firmar alianças duradouras, dentro e fora do país. Logo no início do governo, garantiu uma boa relação com o Partido Social Democrático (SPD, em alemão), a sigla tradicionalmente mais oposta à de Merkel, a União Democrata-Cristã (CDU).
Mais recentemente, a chanceler alemã desenvolveu o que o professor Procópio chama de "excelente relação" com o presidente francês, Emmanuel Macron. O especialista considera essa parceria fundamental para os tempos conturbados que a União Europeia vive, principalmente considerando o Brexit, saída do Reino Unido do bloco. No entanto, apesar das habilidades para costurar alianças, o pesquisador ressalta que Merkel tem uma liderança assertiva. "Ela é um dos poucos líderes mundiais que não diz ;amém; a Donald Trump", brinca.
A vida de Merkel
Nascida em Hamburgo, em 1954, Merkel é filha de um pastor luterano e uma professora de inglês e latim. A família se mudou quando Angela ainda era bebê para a Alemanha Oriental ; oficialmente, a República Democrática Alemã (RDA). Lá, mais tarde estudou física na Universidade de Leipzig e, em meados dos anos 1980, obteve o doutorado em física quântica.
A carreira política teve como catalisador a queda do Muro de Berlim. Entre as figuras da antiga RDA, Merkel assumiu uma participação ativa na campanha de unificação da Alemanha.
*Estagiária sob supervisão de Anderson Costolli