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Busca por culpados explode polêmica de submarino argentino perdido

Dez dias depois do último contato com o submarino e de uma explosão na área por onde navegava, a tragédia impacta uma sociedade comovida.

Agência France-Presse
postado em 24/11/2017 20:20
Dez dias depois do último contato com o submarino e de uma explosão na área por onde navegava, a tragédia impacta uma sociedade comovida.
Buenos Aires, Argentina - A perda do submarino argentino "ARA San Juan" no Atlântico Sul com 44 tripulantes desatou polêmicas pelas eventuais responsabilidades, a ira de familiares e a busca infrutífera, em um país cuja Marinha tem uma má reputação pela repressão na ditadura e pela Guerra das Malvinas.

O caso tem fortes implicações. O sociólogo Ricardo Rouvier disse à AFP que "o feito tem um custo político, histórico e tecnológico".

"Destaca a responsabilidade militar na última ditadura, a derrota nas Malvinas e a reação político-civil que colocou as Forças Armadas no lugar da culpa, em um segundo plano institucional e relegada de no campo orçamentário", assinalou.

Mais de 700 militares e policiais foram condenados a penas de prisão desde 2004 por graves violações dos direitos humanos na ditadura (1976-1983). Outras condenações em cortes militares foram sofridas por altos comandos por conta de deficiências na condução bélica contra a Grã-Bretanha (1982).

Dez dias depois do último contato com o submarino e de uma explosão na área por onde navegava, detectada por uma organização antinuclear, a tragédia impacta uma sociedade comovida.

Haverá demissões no alto comando da Marinha?


A imprensa local conjectura que haverá um expurgo militar. Mas nesta sexta-feira o presidente Mauricio Macri pediu que até que a embarcação seja encontrada, e façam uma investigação "séria e profunda", as pessoas não se aventurem "em procurar culpados". Na mesma linha, o chefe de Gabinete, Marcos Peña, disse sobre supostas mudanças na cúpula naval que "toda especulação tem que ficar suspensa até a conclusão desta operação" de resgate.

Mas a juíza Marta Yáñez começou a investigar. A primeira coisa que disse é que "o submarino não tem caixa preta, a caixa preta é o submarino todo". "O objetivo é investigar as causas da explosão" mencionada pela Armada, afirmou.

Rouvier assinalou que "o fenômeno em si do desaparecimento do submarino o converte em uma tragédia que integra questões da história contemporânea argentina e a indefinição política de qual é o papel das Forças Armadas".

"Há sobre o submarino acidentado o fato possível, ainda não demonstrado, de negligência, esquecimento ou desinteresse do poder político de investigar em suas Forças Armadas", declarou Rouvier.

Por que demoram a encontrá-lo?


A Armada passou da procura do submarino na superfície para sua busca no fundo do mar, com sonares e uma equipe de resgate submarino dos Estados Unidos. "A área é grande, o meio é hostil e a busca é muito difícil", informou o porta-voz naval, Enrique Balbi.

Desde o primeiro dia surgiu a dúvida de encontrá-lo rapidamente pelas condições climáticas adversas, com fortes ventos, temporais e ondas de seis a oito metros de altura. Agora o mar está mais calmo.

Familiares dos submarinistas denunciaram que a operação lançada para a busca foi tardia. "Decidiram tarde usar todos os meios e pedir ajuda internacional", disse desesperada e entre soluços Elena Alfaro, irmã do submarinista Cristian Ibáñez. Os parentes esperavam mais notícias no porto de Mar del Plata, 400 quilômetros ao sul.

A informação foi mal manejada?

Itatí Leguizamón, esposa de outro tripulante reagiu com indignação: "eu me sinto enganada, como só sabem agora? São perversos e nos manipularam", disse enfurecida. É advogada e esposa de Germán Suárez, que trabalhava com os sonares do "ARA San Juan".

O que fez os familiares explodirem de fúria foi o fato de informarem o registro de uma explosão nove dias depois de ter acontecido. A Marinha informou sobre uma avaria de baterias quatro dias após o desaparecimento.

A explicação da demora foi dada por Elizabeth W;chter, chefe da imprensa da Organização do Tratado de Proibição Completa dos Testes Nucleares (OTPCEN), que revelou o relatório: "o fizemos por nossa própria iniciativa quando nos inteiramos do desaparecimento do submarino e detectamos ruídos incomuns em algumas estações hidroacústicas". Admitiu que "a análise dos dados foi um processo longo e complicado".

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