Agência France-Presse
postado em 01/12/2017 19:25
O governo de Nicolás Maduro e a oposição retomaram nesta sexta-feira (1/12), na República Dominicana, as negociações para buscar saídas para a grave crise venezuelana, marcadas pelo ceticismo.
[SAIBAMAIS]Os delegados de Maduro e a coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) se sentaram frente a frente na mesa, na sede da Chancelaria dominicana, após manter encontros anteriores em separado com os observadores internacionais do processo, constatou a AFP.
"Viemos determinados a lutar pelos direitos básicos dos venezuelanos, direito à saúde, direito à alimentação, direito ao voto, direito à democracia", declarou o líder da delegação da MUD, Julio Borges, a cerca de 30 jornalistas antes de entrar na sede diplomática.
"Escutaremos o que a oposição vem dizer, mas nós viemos exigir o fim imediato das agressões econômicas contra a Venezuela", expressou Jorge Rodríguez, principal negociador do chavismo, referindo-se às sanções financeiras dos Estados Unidos contra a Venezuela, pelas quais responsabiliza a MUD.
Esta rodada de negociação vai durar até sábado (2/12). O presidente do país anfitrião, Danilo Medina, disse esperar que a "boa vontade" se imponha com resultados positivos.
"Não é um diálogo, mas uma negociação. Temos a esperança de que possamos tirar algo importante", comentou na quinta-feira.
As partes voltam à mesa após aproximações frustradas entre 2014 e 2017 por acusações mútuas de descumprimentos.
Para o presidente do instituto de pesquisa Datanálisis, Luis Vicente León, o ceticismo "é natural". Ele disse ainda acreditar que a avassaladora inflação e a escassez de alimentos e remédios possam forçar as partes a fechar acordos. Dessa vez, "os dinamizadores da negociação são econômicos", disse à AFP.
Como principais demandas, a MUD apresenta a abertura de "um canal humanitário" para a entrada de alimentos e remédios na Venezuela, assim como "condições justas" nas eleições presidenciais de 2018.
Maduro, que tentará se reeleger segundo anúncio de seu vice-presidente Tareck El-Aissami, exige de seus adversários que advoguem o fim das sanções. Essas medidas proíbem que funcionários e entidades americanos negociem a nova dívida da Venezuela e de sua petroleira Pdvsa.
Nesta sexta-feira (1/12), Rodríguez chamou as sanções de "bloqueio econômico". Além de México e Chile - convidados pela MUD -, Bolívia, Nicarágua e São Vicente e Granadinas - aliados de Maduro -, as negociações contam com o acompanhamento do ex-chefe de governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero.
México, Chile e Nicarágua enviaram seus chanceleres, e Bolívia e São Vicente, seus ministros de Governo e Finanças.
A MUD vai para o encontro fissurada. Deputados opositores se enfrentaram na terça passada entre gritos de "traição", quando o Parlamento aprovou um relatório em apoio às aproximações.
Borges, presidente da Câmara, defende a decisão de ir à República Dominicana: "sabemos o que estamos enfrentando. Não somos ingênuos", mas "é um dever" tentar que "se abra a cooperação internacional com remédios e comida".
A delegação opositora é apoiada por uma dúzia de assessores, entre os quais figuram empresários, sindicalistas e ativistas dos direitos humanos. O governo, que parecia estar mais coeso depois de superar a mais recente onda de protestos, tampouco está longe de rachas.