A primeira-ministra britânica Theresa May tenta nesta terça-feira (5/12) vencer a resistência de seus sócios unionistas norte-irlandeses ao acordo que alcançou com Bruxelas e Dublin sobre a fronteira norte-irlandesa após o Brexit.
Com o acordo, Londres aceita que a província britânica da Irlanda do Norte se alinhe regulatoriamente com a Irlanda após a saída do Reino Unido, permitindo, assim, que pessoas e mercadorias transitem livremente - como funciona hoje, enquanto irlandeses e britânicos fazem parte da UE.
Isso significaria que a Irlanda do Norte iria permanecer de alguma forma na união aduaneira e no mercado único europeu e que a fronteira entre UE e Reino Unido mudaria para o mar da Irlanda. O contexto se assemelharia a uma reunificação irlandesa, o que desagradou os unionistas leais a Londres.
Os boatos sobre o acordo lançaram uma nova tormenta política: escoceses, galeses e até o prefeito de Londres reclamaram um acordo similar para eles, e os unionistas norte-irlandeses do DUP - cujos deputados garantem a sobrevivência de May no Parlamento - rechaçaram um texto que separe a Irlanda do Norte "econômica ou politicamente do Reino Unido", disse Arlene Foster, sua líder.
Assim, May pediu mais tempo para salvar o texto que permitiria a Londres e Bruxelas entrar na segunda fase de negociações do Brexit, sobre o futuro das relações comerciais.
May atenta
"Confio que concluiremos isso de forma positiva", disse a primeira-ministra em uma breve declaração em Bruxelas, após um almoço de trabalho com o presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker.
Nesta terça, May vai tentar convencer os unionistas a não alterar um acordo que já tinha o aval de Dublin e Bruxelas.
"Não acho que este governo queira mudar o significado do texto. De qualquer forma, ele precisa de esclarecimentos", disse a ministra irlandesa de Assuntos Europeus, Helen McEntee, à RTE, a emissa pública do país.
"Nosso ponto de vista é que o texto acordado é suficiente", afirmou.
Essa disputa mostra a fragilidade política de May, que, se perder o apoio dos dez deputados unionistas, poderia se ver obrigada a convocar eleições.
Além de vencer a resistências dos norte-irlandeses, a líder precisa ficar atenta, porque integrantes mais antieuropeus de seu próprio Partido Conservador não vão faciltar sua vida.
"Se Theresa May for longe demais, nós e o DUP vamos tirar o apoio, e haverá uma mudança de líder antes do Natal", disse, sob anonimato, um importante conservador ao jornal The Times.
Prazo no domingo
Apesar das dificuldades, o ministro britânico de Finanças, Philip Hammons, reiterou nesta terça-feira em Bruxelas o otimismo de seu governo.
"É um conjunto muito complexo de negociações, há muitas partes em movimento, muitas partes envolvidas, e temos muita confiança de que seremos capaz de fazer isso", disse à imprensa.
Espera-se que May volte a Bruxelas na quarta ou na quinta-feira, e a UE alertou que o domingo é o limite para um acordo, se ela quiser os outros 27 líderes europeus deem sua autorização para a abertura das negociações comerciais na cúpula europeia de 14 e 15 de dezembro.
A primeira-ministra receberá, nesta terça, em Downing Street, o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, que publicou um artigo no jornal The Guardian no qual agradeceu a Theresa May por seu apoio na crise catalã e expressou sua confiança de que as negociações do Brexit terão um bom desfecho.
"Esperamos que se chegue a um acordo que respeite os interesses de todas as partes", escreveu Rajoy.