postado em 06/12/2017 09:44
Os países árabes e os dirigentes palestinos já advertiram o presidente de Estados Unidos, Donald Trump, sobre o risco de reconhecer Jerusalém como capital de Israel e de levar a embaixada americana para esta cidade. Mesmo assim, Trump anunciará, nesta quarta-feira (6/12), a decisão e ignorará décadas de uma diplomacia cautelosa de Washington sobre este tema sensível para o Oriente Médio e as advertências de líderes regionais.
O presidente também determinará que se prepare a transferência da embaixada americana de Tel-Aviv para Jerusalém, mas este movimento poderá exigir "alguns anos".
Entenda o contexto e as possíveis consequências de sua decisão.
Qual é o contexto?
Jerusalém fica no centro do conflito israelense-palestino e seu status é uma das questões mais difíceis de resolver.
O plano de divisão da Palestina de 1947, então sob poder britânico, previa sua partilha em três entidades: um Estado judeu, um Estado árabe e Jerusalém como um "corpo separado" sob regime internacional especial. Este plano foi aceito pelos dirigentes sionistas, mas rejeitado pelos líderes árabes.
Após a saída dos britânicos e a primeira guerra árabe-israelense, cria-se o Estado de Israel em 1948, que faz de Jerusalém Ocidental sua capital. Jerusalém Oriental fica sob o controle da Jordânia. Israel toma e anexa Jerusalém Oriental durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Uma lei aprova em 1980 o status de Jerusalém como capital "eterna e indivisível" de Israel.
Por que Jerusalém é tão importante para israelenses e palestinos?
Os judeus consideram Jerusalém sua capital histórica há mais de 3.000 anos por razões religiosas e políticas. O judaísmo sempre mencionou o retorno a Jerusalém. A cidade é a antiga capital do reino de Israel do rei David (século X a.C.) e mais tarde do reino judeu Asmoneu (século II a.C).
Os palestinos, que representam cerca de um terço da população da cidade, reivindicam Jerusalém como a capital de seu futuro Estado. Além do conflito, a questão tem uma dimensão religiosa essencial: a cidade abriga os principais lugares santos do cristianismo e do judaísmo, e é o terceiro lugar santo do islã.
Que decisão é esperada?
A comunidade internacional não reconhece a soberania israelense em Jerusalém e considera Jerusalém Oriental como território ocupado. Todas as embaixadas estrangeiras estão em Tel Aviv.
Em 1995, o Congresso americano adotou o "Jerusalem Embassy Act", que pede ao executivo a transferência da embaixada. "A cidade de Jerusalém é desde 1950 a capital do Estado de Israel", diz o texto.
A lei é vinculante para o governo americano, mas uma cláusula permite aos presidentes adiar sua aplicação durante seis meses em virtude de "interesses de segurança nacional".
Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama acionaram sistematicamente a cláusula a cada seis meses. Trump deverá se pronunciará sobre o assunto nesta quarta-feira.
Que decisão será adotada por Trump?
Donald Trump se comprometeu durante sua campanha a reconhecer Jerusalém "como a capital indivisível do Estado de Israel". Seu embaixador em Israel, David Friedman, é um empenhado partidário.
Apesar de suas promessas, Trump seguiu o exemplo de seus antecessores pela primeira vez em junho, quando bloqueou a transferência. Trump foi alertado por diversas partes sobre o potencial explosivo da medida, mas também está submetido à pressão de uma parte de seu eleitorado cristão favorável a Jerusalém como capital.
Quais seriam as consequências?
O transferência da embaixada seria interpretada como um reconhecimento de Jerusalém como capital. Se Trump adiar sua mudança, mas reconhecer Jerusalém como capital, Dan Shapiro, embaixador americano em Israel durante o governo de Barack Obama, considera que isso não terá "um efeito significativo" no funcionamento diplomático, "mas indicaria sua intenção de respeitar seu compromisso no futuro de transferir a embaixada". Para os Estados Unidos, isso significaria adotar "uma nova linguagem", declarou à AFP.
[SAIBAMAIS]Entretanto, os analistas se perguntam como reagiriam os palestinos, as capitais e as ruas árabes. Também duvidam da capacidade dos países árabes de enfrentar Trump. O presidente da Liga Árabe, Ahmed Abul Gheit, se mostrou preocupado sobre o risco de alimentar "o fanatismo e a violência".
O movimento islâmico palestino Hamas convocou uma nova Intifada caso Trump reconheça Jerusalém como capital de Israel. O secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Saeb Erakat, advertiu que Estados Unidos perderiam a credibilidade em seu papel de mediador.
Uma grande parte da classe política israelense dá boas-vindas à perspectiva de um reconhecimento considerando-o como um fato histórico.
Com informações da Agência France-Presse