Quarenta e cinco mil pessoas se manifestaram nesta quinta-feira (7/12) em Bruxelas para chamar a atenção da União Europeia sobre a situação na Catalunha, cuja autonomia sofreu a intervenção do governo espanhol depois de uma declaração unilateral de independência impulsionada pelo executivo regional.
Sob uma chuva intermitente e com dois graus de temperatura, a manifestação começou no início da tarde passando pelo bairro europeu de Bruxelas sob o lema "Europe, wake up! Democracy for Catalonia" (Acorda Europa! Democracia para a Catalunha), duas semanas antes das eleições regionais antecipadas na Catalunha.
"Em algum lugar do mundo viram uma manifestação como esta para apoiar criminosos? Não", disse ao fim da marcha o líder separatista Carles Puigdemont, que está na Bélgica desde o fim de outubro após ser destituído como presidente regional por Madri.
"Viemos para pedir à Europa que acorde, que vejam que na Espanha não há democracia, que não há independência judicial", disse à AFP Montserrat Mante, de 73 anos, que viajou à capital belga junto com seu marido e sua nora da cidade catalã de Badalona.
Desde a convocatória em 1; de outubro na Catalunha de um referendo de autodeterminação proibido pela justiça espanhola, a UE considerou essa crise política como um assunto interno da Espanha e expressou seu respeito à legislação espanhola e ao governo central de Mariano Rajoy.
Perguntado sobre a manifestação, o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, indicou que "todos os cidadãos têm o direito de organizar-se para expressar (...) um desejo político de mudança", embora tenha ressaltado que isso não significa "ignorar a lei".
Depois que o parlamento regional proclamou unilateralmente a independência da Catalunha, Madri colocou a autonomia catalã sob tutela, destituiu o executivo catalão e convocou eleições regionais, enquanto a justiça espanhola abriu processos por rebelião contra os líderes separatistas.
Puigdemont chegou meia hora antes do início da marcha e foi recebido entre aplausos ao grito "Puigdemont, nosso presidente".
"Não podemos abandonar nosso presidente que está no exílio aqui. Estamos aqui para continuar a luta pela independência e pedir a liberdade dos presos políticos", disse à AFP Antoni Llenas, de 59 anos, em referência aos líderes separatistas presos na Espanha.
Bandeiras independentistas eram levantadas entre uma multidão com capas de chuva, gorros, cachecóis e todo tipo de vestimenta amarela, a cor usada para pedir a libertação de quatro líderes separatistas acusados de rebelião, entre eles dois membros do governo regional destituído.
O objetivo das organizações separatistas que convocaram a manifestação -Assembleia Nacional Catalã (ANC) e ;mnium Cultural- é demostrar que a "Catalunha não é apenas um assunto interno da Espanha, mas (também) um assunto europeu", explicou na véspera o vice-presidente da ;mnium, Marcel Mauri.
Assim, a marcha cruzou o bairro europeu, percorrendo 2,5 quilômetros que passa pela sede da Comissão Europeia até terminar na praça Jean Rey, nas imediações da Eurocâmara e do Conselho Europeu.
Os organizadores previam "mais de 20.000 pessoas" na manifestação. A contagem oficial da polícia de Bruxelas até as 12H00 GMT era de "45.000 manifestantes", informou em sua conta do Twitter.
"Em 21 de dezembro todo mundo tem que votar", "cada voto será um grito pela liberdade", disse a secretária-geral do partido ERC (esquerda), Marta Rovira, lendo uma carta enviada pelo líder desta formação independentista, Oriol Junqueras, que está em prisão preventiva em Madri.
A presença de catalães é significativa na capital belga. Na quarta-feira à noite, dezenas de separatistas encheram os bares e as ruas próximas à turística Grand-Place de Bruxelas, constatou a AFP.