Agência France-Presse
postado em 13/12/2017 09:30
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, pediu nesta quarta-feira (13/12) o reconhecimento de Jerusalém Oriental como "capital da Palestina", em reação ao reconhecimento por parte do governo dos Estados Unidos da Cidade Santa como capital de Israel.
"Convido os países que defendem o Direito Internacional e a justiça a reconhecerem Jerusalém ocupada como capital da Palestina", afirmou o chefe de Estado durante a abertura de uma reunião extraordinária da Organização de Cooperação Islâmica (OCI) em Istambul.
"Israel é um Estado de ocupação. Além disso, é um Estado terrorista", afirmou, repetindo que Jerusalém é uma "linha vermelha".
Com a decisão de Trump, "Israel foi recompensada por todas as atividades que realiza", continuou Erdogan, garantindo que "nunca renunciará" a exigir "uma Palestina soberana e independência".
Para o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlüt Cavusoglu, "a comunidade de muçulmanos não pode ficar silenciosa diante dessa decisão", a qual considera "inexistente".
O anúncio de Trump em 6 de dezembro passado provocou uma condenação quase unânime no mundo e manifestações de ódio em muitos países do Oriente Médio, incluindo confrontos nos territórios palestinos e em Jerusalém. Quatro palestinos morreram, e centenas ficaram feridos desde quinta-feira passada (7/12).
Em um discurso especialmente virulento na abertura dessa cúpula pan-islâmica em Istambul, presidente palestino, Mahmud Abbas, denunciou que Trump "ofereceu Jerusalém de presente para o movimento sionista" e garantiu que "não aceitamos qualquer papel dos Estados Unidos" no processo de paz, porque Washington é "parcial".
Segundo Abbas, "Jerusalém é e continuará sendo eternamente a capital do Estado da Palestina (...) E, sem isso, não haverá paz, nem estabilidade".
Presidente em exercício da OCI, Erdogan espera unificar o mundo muçulmano contra a decisão americana. Apesar da vontade da Turquia, muitos dos países da região reagiram até agora com moderação à decisão de Trump. Nesse sentido, os observadores consideram pouco provável que sejam decididas medidas fortes, ou sanções, durante a cúpula de hoje.
- O dividido mundo muçulmano -
A tarefa não será fácil, porém, já que a região se encontra profundamente dividida. Somado a isso, vários países - como a Arábia Saudita - buscam cultivar boas relações com o governo Trump, tendo como pano de fundo a hostilidade em relação ao Irã.
"Vários grandes países do mundo muçulmano não querem entrar no conflito com os Estados Unidos, tampouco com Israel, em um contexto de tensões religiosas crescentes com o Irã", explica Sinan ;lgen, presidente do Center for Economics and Foreign Policy (Edam), com sede em Istambul. Para os dirigentes da Arábia Saudita e de outros países do Golfo, frear a influência do Irã "é mais importante do que tomar medidas ofensivas que possam pôr em risco as relações com Washington", acrescenta o especialista.
No fim de semana passado, a Liga Árabe se limitou a uma condenação verbal, pedindo aos Estados Unidos que "anulem sua decisão sobre Jerusalém". Entre os líderes que participam da cúpula, estão o presidente iraniano, Hassan Rohani; o rei da Jordânia, Abdallah II; o emir do Catar, xeque Tamim ben Hamad Al Thani; e o presidente da Venezuelano, Nicolás Maduro.
Acusado de cometer genocídio em Darfur, O presidente do Sudão, Omar El Bechir, também está na cúpula.
O Egito, que vive tensões com a Turquia, mas quis estar presente em uma cúpula sobre a questão de Jerusalém, enviou seu chanceler, Sameh Choukry. A Arábia Saudita está representada por seu ministro das Relações Exteriores, Nizar Madani. Com essa cúpula, Erdogan busca reforçar sua imagem de defensor dos muçulmanos no mundo, como os palestinos, ou os rohingyas que fogem de Mianmar.