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'Não vou abdicar' da presidência do Peru, diz Kuczynski

O presidente descartou ter recebido pagamentos ilegais da empreiteira Odebrecht, acusação pela qual a oposição quer que deixe o cargo

A imprensa local menciona a possibilidade de alguns de seus ministros se demitirem em desacordo com sua posição. O partido de oposição que controla o Congresso no Peru, Força Popular, pediu na quinta-feira (15/12) a renúncia de Kuczynski por "provas concretas de atos de corrupção" que o vinculam à Odebrecht, que o teria assessorado por quantias milionárias inclusive quando era ministro.

"É evidente que sua permanência no máximo cargo da nação é insustentável", disse porta-voz da bancada parlamentar, Daniel Salaverry.

"Aqui o que o povo peruano exige é que o presidente renuncie e que se dê uma transição constitucional para que o vice-presidente da República assuma a presidência do Peru", declarou.

O ultimato virtual agrava a complicada situação do presidente, depois de a Odebrecht ter reconhecido na quarta-feira (14/12) que pagou quase 5 milhões de dólares por assessorias de empresas vinculadas a ele entre 2004 e 2013.

Durante parte desse período, Kuczynski foi ministro da Economia e também presidente do Conselho de Ministros do mandatário Alejandro Toledo (2001-2006), a quem a Odebrecht garante que pagou 20 milhões de dólares em troca da concessão de uma rodovia.

A construtora brasileira, envolvida o escândalo pelo pagamento de subornos em troca de obras públicas na América Latina, admite que desembolsou 29 milhões de dólares sob esta modalidade no Peru entre 2005 e 2014.

Os pedidos formais de renúncia presidencial chegam antes de Kuczynski completar a metade de seu mandato de cinco anos, que conclui em julho de 2021.

Uma possível destituição ou renúncia abriria caminho a eleições antecipadas no no que vem. Em novembro, Kuczynski tinha negado os vínculos com a construtora brasileira, depois que o ex-diretor-executivo da empresa, Marcelo Odebrecht, disse aos promotores peruanos que o contratou para uma consultoria privada.

Mas no último sábado (9/12), Kuczynski admitiu na rádio RPP que realizou uma consultoria por meio da empresa First Capital - empresa de um ex-sócio - para o projeto H2Olmos, um consórcio integrado pela Odebrecht.

Na quarta-feira (14/12), Kuczynski se reuniu com o gabinete e mudou sua posição, decidindo comparecer diante de uma comissão investigadora.

"Entregaram à imprensa informação de pagamentos feitos pela Odebrecht, dando a entender que seriam honorários pagos a minha pessoa. Diante disto (...) decidi me reunir com esta comissão", disse o presidente à rádio RPP.

"A renda que obtive como profissional está registrada e tributada. Não há nada irregular".

"São quase 5 milhões de dólares que o atual presidente da República teria recebido através das empresas mencionadas", destacou a deputada Rosa Bartra, da Força Popular, na quarta-feira.

A Justiça peruana também solicitou a extradição do ex-presidente Alejandro Toledo, dos Estados Unidos, por envolvimento no caso.

Entenda o caso

Do total pago pela construtora, 782.000 dólares foram entregues à Westfield Capital, firma de Kuczynski, quando era milnistro da Economia do governo de Alejandro Toledo (2001-2006). Outros 4,05 milhões foram para a First Capital, empresa de um ex-sócio para a qual trabalhou.

"Isso é falso. Não nos deixemos confundir", afirmou o chefe de estado. Exibindo documentos, negou ter relação direta com a First Capital, apesar de admitir que trabalhou em uma assessoria com eles para um projeto da Odebrecht, mas em condições legais.

A respeito da Westfield Capital, disse que é de sua propriedade, mas "nunca esteve encarregado da gestão nem da admilnistração da empresa enquanto ocupava um cargo público". Nas duas companhias, os contratos foram tratados por um de seus sócios, o chileno Gerardo Sepúlveda.

A formação de oposição deu um ultimato para que Kuczynski renuncie, caso contrário pedirá seu impeachment através do Congresso. Para isso, são necessários 87 votos dos 130 legisladores, um número que a oposição pode reunir com facilidade. O processo de destituição pode ter início nesta sexta.

Em caso de renúncia, ele será substituído pelo primeiro vice-presidente, Martín Vizcarra, atual embaixador do Peru no Canadá. Grupos de esquerda pedem, inclusive, a realização de eleições gerais antecipadas.

A crise beneficia o partido fujimorista Força Popular, que tem 71 dos 130 deputados, e sua líder, Keiko Fujimori, que perdeu por uma margem mínima as presidenciais contra Kuczynski em 2016. Kuczynski é o terceiro governante peruano a ter problemas pelo caso Odebrecht.

O escândalo já levou à prisão preventiva do ex-presidente Ollanta Humala (2011-2016) e de sua mulher. Eles teriam recebido 3 milhões de dólares para a campanha eleitoral de forma irregular. Sobre Toledo pesa uma ordem de extradição nos Estados Unidos.