Agência France-Presse
postado em 16/12/2017 10:23
Nova Délhi, Índia - Rahul Gandhi assumiu neste sábado o cargo de presidente do agora opositor Partido do Congresso indiano, convertendo-se no sexto membro da dinastia Nehru-Gandhi a dirigir a formação que governo o país durante a maior parte de usa história desde a independência.
Filho, neto e bisneto de primeiros-ministros indianos, com 47 anos, tem sido a figura mais visível do Partido do Congresso nos últimos anos. Sua mãe Sonia, de origem italiana, ocupava o cargo de presidente do partido há 19 anos, um recorde nesta força política fundada em 1885.
A transferência de poder aconteceu em uma cerimônia na sede do partido em Nova Délhi, na presença de grandes nomes da formação, entre eles o ex-premiê Manmohan Singh.
Centenas de seguidores festejaram o acontecimento dançando e soltando fogos de artifício. O barulho dos fogos obrigou Sonia Gandhi, irritada, a interromper seu discurso durante vários minutos. "Aceito este cargo com a maior humildade, estando consciente de que andarei sempre à sombra de gigantes", declarou Rahul Gandhi na tribuna.
[SAIBAMAIS]Em um discurso virulento, no qual alternou entre o inglês e o hindi, o herdeiro da famosa dinastia atacou ferozmente o governo nacionalista hindu de Narendra Modi. "O primeiro-ministro nos devolve a tempos medievais nos quais as pessoas são massacradas, maltratados por sua fé e assassinados pelo que comem", afirmou.
Este transferência de poder acontece um ano e meio antes das eleições onde o Partido do Congresso enfrentará o poderio de Bharatiya Janata Party (BJP), a formação nacionalista hindu de Modi que, desde 2014, inflingiu duras derrotas.
Rahul Gandhi, criado para um dia governar seu país, comparou certa vez o poder com um "veneno". Número dois do Congresso Nacional Indiano desde 2013, Rahul Gandhi figurava como o herdeiro natural para suceder a mãe.
Mas foi duramente criticado pela fraca campanha nas eleições legislativas de 2014, nas quais os nacionalistas hindus de Nerendra Modi conseguiram uma grande vitória.
Apesar de durante muito tempo dar a impressão de falta de interesse na política e falta de carisma, Rahul Gandhi parece ter aprendido muito na oposição, segundo os observadores.
Agora tem pela frente a dura tarefa de redinamizar e rejuvenescer um partido marcado pela corrupção e desgastado por sua longevidade.
Tragédia do poder
Rahul Gandhi nasceu em 19 de junho 1970 em uma família cujo destino é inseparável da história da Índia independente. A dinastia dos Nehru-Gandhi não tem, no entanto, nenhum parentesco com Mahatma Gandhi.
Rahul tinha 14 anos quando sua avó Indira foi assassinada por seus guardas-costas sikhs em 1984, e 20 anos quando seu pai Rajiv morreu em um atentado suicida em 1991.
Traumatizada por esta mortes violentas, sua mãe, Sonia, demorou para se deixar convencer a tomar as rédeas de um Congresso morimbundo no final dos anos 1990. Mas reconquistou o poder em 2004. Sonia não quis ser primeira-ministra, mas isso não a impediu de governar o país nas sombras durante uma década.
O jovem Rahul estudou nas mais prestigiosas escolas da Índia antes de frequentar Harvard e Cambridge. Entrou para a política em 2004 presentando-se na jurisdição familiar de Amethi, em Uttar Pradesh, norte do país.
Suas longas estadas no exterior, sua discrição midiática e a questão da falta de carisma alimentaram dúvidas sobre suas ambições políticas.
Menos popular que sua irmã Priyanka, Rahul Gandhi foi, inclusive, descrito em uma mensagem diplomática americana de 2007 como "um homem sem consistência". "A forma com que ele vai gerenciar o caminho no funcionamento do partido vai ser importante, como, por exemplo, promover jovens líderes e ignorar as críticas sobre seu papel", explicou à AFP Gurpreet Mahajan, professor de Ciências Políticas da Universidade Jawaharlal Nehru de Delhi.
"Se conseguir levar as mudanças ao nível da base, isso vai dar uma nova direção ao partido que está em dificuldade frente a um BJP em ascensão", conclui.