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Incertezas persistem na Catalunha após as eleições

O partido anti-nacionalista Cidadãos alcançou o melhor resultado com 37 assentos de um total de 135, em um Parlamento dominado pelos 70 deputados pró-independência

Agência France-Presse
postado em 22/12/2017 15:55
Depois de três meses vertiginosos na Catalunha e de uma tentativa fracassada de secessão, muitos críticos esperavam que o separatismo perdesse terreno. Mas não foi o que aconteceu e a região continuará mergulhada na incerteza.

Divisão persiste


Os eleitores desta região espanhola renovaram a maioria absoluta obtida pelos partidos separatistas em 2015, apesar da mudança física de mais de 3.000 empresas e da rejeição da União Europeia à tentativa fracassada de separação da região.

Por sua vez, o partido anti-nacionalista Cidadãos alcançou o melhor resultado com 37 assentos de um total de 135, em um Parlamento dominado pelos 70 deputados pró-independência.

Após a impopular intervenção na autonomia regional por parte de Madri e a violência policial durante o referendo de 1; de outubro, os separatistas se mantém fortes, mas um amplo número de catalães aposta na unidade nacional.

"Estamos agora em uma sociedade mais polarizada e mais confrontante. A possibilidade de uma solução consensual é menor do que era há um ano", diz Oriol Bartomeus, cientista político da Universidade Autônoma de Barcelona.

O futuro de Puigdemont


Enquanto o Cidadãos venceu em termos de assentos e votos, está muito atrás da soma dos independentistas e não terá apoio suficiente para formar um governo.

Os separatistas, por sua vez, têm caminho livre para unir forças e formar um novo governo regional.

A candidatura liderada por Carles Puigdemont, deposto como presidente catalão por Madri, foi a melhor colocada dentro do bloco.

Mas ele se encontra na Bélgica e é solicitado pela Justiça espanhola por suposta rebelião e sedição. Seu vice-presidente, Oriol Junqueras, também deputado eleito, está em prisão preventiva pelas mesmas acusações.

Outros seis líderes separatistas eleitos na quinta-feira estão na prisão ou na Bélgica.

Rafael Arenas, professor de direito da Universidade Autônoma, diz que Puigdemont pode retornar ao país, o que implicaria sua prisão imediata.

Ele e outros presos poderiam ser autorizados a ir ao Parlamento para tomar posse, mas não poderiam comparecer às sessões. Com isso, os separatistas perderiam a maioria absoluta, passando de 70 para 66 deputados.

Além disso, também cresceria o desconforto de seus militantes, já indignados com a prisão de Junqueras e outros líderes que eles consideram "prisioneiros políticos".

Em outras palavras, uma estratégia de "confronto" e "escândalo", segundo Arenas.

A outra opção para Puigdemont é permanecer na Bélgica, renunciar ao seu assento e continuar reivindicando-se como "presidente no exílio".

Os outros prisioneiros poderiam ceder seus assentos aos seguintes da lista, e um governo poderia ser formado, o que acabaria com a tutela de Madri.

Outra tentativa de secessão?


Não há certezas se os separatistas vão retomar a luta pela independência. Nenhum partido descartou essa opção claramente durante a campanha, embora as duas grandes listas secessionistas tenham se distanciado de uma via unilateral.

Para Inés Arrimadas, candidata do Cidadãos na Catalunha, a divisão da região não lhes permite fazê-lo.

"Se o processo de independência não tinha sentido ontem, hoje faz menos sentido ainda", afirmou nesta sexta-feira.

Prevê-se novas pressões para forçar uma negociação entre Madri e os independentistas, embora o chefe de governo, Mariano Rajoy, tenha rejeitado nesta sexta-feira o pedido para uma reunião de Puigdemont.

Consequências econômicas


A turbulência dos últimos meses impactou o dinamismo da economia catalã: o turismo desacelerou, bem como a criação de emprego e o consumo, e mais de 3.100 empresas mudaram sua sede da Catalunha.

"Esperamos que as perspectivas econômicas da região continuem a deteriorar-se, com repercussões para a economia nacional, a menos que seja compensada pelo crescimento de outras regiões", aponta a agência financeira Moody;s.

"Ninguém vai investir na Catalunha até que a situação seja esclarecida", acrescentou o economista José Carlos Díez.

Rajoy prejudicado

O grande perdedor das eleições foi o Partido Popular (PP) do chefe do governo conservador Mariano Rajoy, que ficou em último lugar e passou de onze para três deputados.

Sua popularidade sempre foi baixa na Catalunha, mas a vitória do Cidadãos na região poderia afetá-lo a nível nacional, uma vez que o partido de centro-direita busca roubar-lhe votos, especialmente entre os eleitores mais jovens.

"A vitória do Cidadãos na Catalunha provavelmente dará ao partido um impulso adicional nas pesquisas nacionais", disse Antonio Barroso, vice-diretor do instituto de pesquisas Teneo Intelligence.

Na sexta-feira, Rajoy descartou convocar eleições antecipadas após os fracos resultados de seu partido.

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