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Coreia do Norte diz estar pronta para ir às Olimpíadas de Inverno

Junto com seus atletas, o Norte propôs enviar aos Jogos de Pyeongchang (9 a 25 de fevereiro) uma delegação de alto nível, torcedores, artistas e uma equipe de demonstração de taekwondo

Agência France-Presse
postado em 09/01/2018 09:45
Ministro sul-coreano da Unificação, Cho Myung-Gyun, cumprimenta norte-coreano Ri Son-Gwon

Seul, Coreia do Sul -
A Coreia do Norte anunciou nesta terça-feira (9/1) que está pronta para enviar atletas e uma delegação de alto escalão para os próximos Jogos Olímpicos de Inverno na Coreia do Sul, em um gesto excepcional depois das tensões provocadas pelas ambições nucleares de Pyongyang. Seul aproveitou este primeiro encontro em mais de dois anos para solicitar um encontro das famílias separadas pela guerra (1950-53), um dos legados mais dolorosos do conflito.

Os dois lados também decidiram restabelecer a linha telefônica militar que foi cortada em fevereiro de 2016, a fim de melhorar a comunicação entre os Exércitos desses dois países ainda tecnicamente em guerra. As discussões estão sendo realizadas em Panmunjom, vilarejo onde o cessar-fogo da Guerra da Coreia foi assinado, na Zona Desmilitarizada (DMZ) que divide a península.

[SAIBAMAIS]A delegação norte-coreana cruzou a pé linha de demarcação militar para ir à Casa da Paz, o lugar de encontro do lado sul-coreano, a poucos metros de onde um soldado desertou há dois meses, sob uma chuva de balas. O ministro sul-coreano da Unificação, Cho Myoung-Gyon, e o chefe da delegação norte-coreana Ri Son-Gwon apertaram as mãos antes de entrar no edifício.

De acordo com os costumes norte-coreanos, Ri portava um broche ornado com o retrato do pai fundador da Coreia do Norte, Kim Il-Sung, e do seu filho e sucessor Kim Jong-Il. Cho portava um broche com as cores da bandeira da Coreia do Sul.

Junto com seus atletas, o Norte propôs enviar aos Jogos de Pyeongchang (9 a 25 de fevereiro) uma delegação de alto nível, torcedores, artistas e uma equipe de demonstração de taekwondo, segundo explicou à imprensa o vice-ministro sul-coreano da Unificação, Chun Hae-Sung.

Confrontos acidentais
Seul apelou para a retomada das reuniões familiares, bem como para conversas entre a Cruz Vermelha dos dois países e discussões militares para evitar "confrontos acidentais". "Vamos dar às pessoas um precioso presente de Ano Novo", lançou o norte-coreano. "Dizem que uma viagem a dois dura mais do que uma viagem solitária".

A atmosfera parecia mais relaxada do que o habitual. "O povo está ansioso para ver o Norte e o Sul avançar em direção à paz e reconciliação", respondeu o sul-coreano. Um tom que contrasta fortemente com a retórica empregada ultimamente, com insultos pessoais e ameaças de guerra trocadas pelo líder norte-coreano Kim Jong-Un e pelo presidente americano Donald Trump.

Nos últimos dois anos, a situação na península se deteriorou, o Norte conduziu três novos testes nucleares e multiplicou seus disparos de mísseis. Seul se esforça para apresentar os Jogos Olímpicos, que vão acontecer a apenas 80 km da DMZ, como as "Olimpíadas da Paz", mas para que a frase faça sentido, a participação do Norte é essencial.

O diálogo de hoje se dá após Kim afirmar no Ano Novo a possibilidade do envio de uma delegação às Olimpíadas. Na semana passada, o telefone vermelho entre os dois vizinhos foi restabelecido após quase dois anos de silêncio.

Resta saber se os representantes de ambos os países farão uma entrada conjunta nas cerimônias de abertura e encerramento, como em Sydney em 2000, Atenas em 2004 e Turim em 2006. O tamanho da delegação norte-coreana, bem como sua hospedagem, que deve ser financiada por Seul, ainda precisam ser determinados.

Pom-pom girls
Apenas dois atletas norte-coreanos se qualificaram para os Jogos, mas o Norte deve enviar ao Sul um grande contingente de torcedores, de acordo com especialistas. A imprensa sul-coreana sugeriu que Pyongyang poderia enviar representantes eminentes, incluindo a irmã mais nova de Kim Jong-Un, Yo-Jong, uma das dirigentes do partido no poder.

Ambas as partes manifestaram seu desejo de discutir temas além do esporte. "Ambas as partes chegarão a um acordo sobre Pyeongchang sem qualquer problema, mas o que acontecerá depois?", questiona Koh Yu-Hwan, professor da Universidade de Dongguk.

"Não será fácil chegar a um acordo imediato sobre questões relacionadas à melhoria das relações intercoreanas". Não está claro se o Norte procurou discutir a cessação definitiva dos exercícios militares conjuntos entre Seul e Washington.

Os Estados Unidos e a Coreia do Sul concordaram na semana passada em adiar suas manobras Foal Eagle e Key Resolve, a fim de diminuir as tensões. Trump elogiou no último final de semana a retomada das discussões, afirmando que espera que continuem após as Olimpíadas. Ele está pronto para discutir com Kim.

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