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Declaração de Trump revolta África

A União Africana (UA) condenou essas declarações "ofensivas" e "perturbadoras"

Agência France-Presse
postado em 12/01/2018 17:31

A União Africana (UA) condenou essas declarações

A África manifestou, nesta sexta-feira (12/1), indignação e revolta com as declarações do presidente americano, Donald Trump, que classificou nações africanas, Haiti e El Salvador como "países de merda".

A União Africana (UA) condenou essas declarações "ofensivas" e "perturbadoras".

"Isso é ainda mais ofensivo dada a realidade histórica do número de africanos que chegaram aos Estados Unidos como escravos", disse à AFP Ebba Kalondo, porta-voz do presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki.

Kalondo acrescentou, porém, que os Estados Unidos "são um país que representa muito mais do que um homem, ou uma declaração".

Botsuana anunciou hoje que convocou o embaixador americano para expressar seu mal-estar. No Twitter, seu chanceler, Pelonomi Venson-Moitoi, afirmou que a declaração de Trump significa um "golpe pungente" nas relações diplomáticas com Washington.

Hashtag #Paísesdemerda


A África "não é um lugar de merda", tuitou o ex-campeão mundial de atletismo Bernard Lagat, maratonista que obteve a nacionalidade americana em 2004.

"Sou filho de um continente brilhante chamado África e tenho orgulho disso. Minha herança está profundamente arraigada nas minhas raízes quenianas", escreveu.

Nas redes sociais, um grande número de africanos compartilhou sua irritação com Trump, postando fotos de arranha-céus, ou de paisagens magníficas de seus países, usando a hashtag #shithole (palavra em inglês usada por Trump).

Na quinta-feira, Trump recebeu na Casa Branca um grupo de congressistas democratas e republicanos para tentar chegar a um acordo sobre uma lei geral para imigração.

"Por que todas essas pessoas de países de merda vêm aqui?", teria dito Trump, como relataram fontes presentes à reunião aos jornais The Washington Post e The New York Times.

Com suas palavras, Trump se referia a cidadãos do Haiti e de países africanos. De acordo com o "Post", El Salvador também foi citado.

Em um primeiro tuíte logo cedo nesta sexta, Trump admitiu que foram ditas coisas "duras" em uma reunião na Casa Branca ontem pra discutir imigração, mas garantiu que "essa não foi a linguagem usada".

;Hipocrisia;


Em Genebra, o porta-voz do alto comissário para Direitos Humanos da ONU, Rupert Colville, classificou as palavras de Trump como vergonhosas.

"Se se confirmarem, são comentários escandalosos e vergonhosos por parte do presidente dos Estados Unidos. Sinto muito, mas a única palavra que se pode usar é racista", frisou.

Em conversa com a AFP, o comentarista político queniano Patrick Gathara disse que as declarações de Trump não representam "nada de novo" por parte de um governo americano que é "racista e ignorante".

"Não difere daquilo que Hollywood e a mídia ocidental dizem da África há décadas", alegou.

"O que é ainda mais insultante é a hipocrisia de todos aqueles que condenam Trump - e deve ser condenado - sem observar suas próprias palavras e condutas", acrescentou Gathara.

Continente abençoado


No Twitter, o ativista queniano Boniface Mwangi fez um apelo para que "não se confunda os dirigentes de merda que os africanos elegeram com nosso belo continente" - "o mais abençoado de todos".

"Mas foi violentado pelos imperialistas em colaboração com nossos dirigentes de merda por gerações", indicou.

Na África do Sul, o partido da situação - o Congresso Nacional Africano - considerou "extremamente ofensivas" as palavras de Trump, enquanto o porta-voz do presidente do Sudão do Sul, Ateny Wek Ateny, chamou-as de "escandalosas". O país está em guerra desde dezembro de 2013.

Na Nigéria, vários internautas tuitaram que vivem em um "país de merda", esclarecendo, contudo, que "é nossa merda" e que ninguém mais pode se achar no direito de desqualificá-los dessa maneira.

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