Agência France-Presse
postado em 26/01/2018 00:46
A Casa Branca apresentou nesta quinta-feira um projeto para reformar o sistema migratório que abre caminho para a naturalização de até 1,8 milhão de jovens imigrantes, mas que foi recebido com frieza por legisladores e organizações da sociedade civil.
A parte central da proposta permitiria outorgar a nacionalidade americana a aproximadamente 2 milhões de jovens sem documentos, mas requer que o Congresso destine 25 bilhões de dólares para construir um controverso muro na fronteira com o México.
A proposta beneficiaria fundamentalmente cerca de 690.000 jovens imigrantes que chegaram ao país ainda crianças e que desde 2012 regularizaram sua situação graças ao programa Daca, que os protege de ser deportados.
O presidente Donald Trump anunciou em setembro o fim do programa, colocando centenas de milhares de imigrantes conhecidos como "dreamers" em um limbo jurídico.
A proposta da Casa Branca também coloca um ponto final ao tradicional sorteio de vistos de residência (green cards) e reduz drasticamente a "migração em rede" ou reunificação familiar, que ficará limitada a cônjuge e filhos menores de idade.
Caminho a um status legal
A ideia do governo é "dar status legal aos beneficiários do Daca e a outros imigrantes que poderiam ser elegíveis, ajustando o período de aplicação para abarcar 1,8 milhão de indivíduos aproximadamente".
Além disso, a Casa Branca pediu que o Congresso inclua no próximo orçamento federal uma provisão de 25 bilhões de dólares para a construção do controverso muro na fronteira com o México, uma promessa de campanha de Trump.
Uma alta fonte do governo disse que o país "deve ter as ferramentas para deter a imigração ilegal e a capacidade de deportar os indivíduos que entraram ilegalmente".
A proposta da Casa Branca é uma resposta às intensas negociações no Congresso para romper o bloqueio que impede aprovar um orçamento federal para o ano fiscal em curso.
Projeto "odioso e xenófobo"
O Partido Democrata bloqueou qualquer tentativa de respaldá-lo caso não se estabeleça uma saída para os "dreamers".
Desde dezembro do ano passado, o Congresso apenas conseguiu aprovar orçamentos provisórios. A falta de acordo levou, na semana passada, à paralisação do governo por três dias pela ausência de recursos.
Após tomar conhecimento da proposta da Casa Branca, Lorella Praelli, da influente União Americana das Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês), disse que o projeto da Casa Branca era "odioso e xenófobo" e um "esforço claro de sabotar" as negociações no Congresso.
Entrento, o legislador democrata Luis Gutiérrez, ativo defensor dos imigrantes no Congresso, afirmou em sua página no Twitter que os 25 bilhões de dólares eram o pagamento de um "resgate".
"Seria mais barato construir um monumento de concreto de 20 metros com um dedo médio apontando para a América Latina. Seria igualmente ofensivo e igualmente inútil a essa proposta, e expressaria melhor a desconfiança de Trump em relação aos latinos", acrescentou.
Outro legislador democrata, Jerrod Nadler, reclamou que "os ;dreamers; estejam sendo mantidos como reféns pelos republicanos que querem relacionar qualquer solução com suas políticas extremistas sobre imigração".
Frank Sharry, do grupo Americas Voice, resumiu assim a proposta: "Eliminar a imigração ilegal. Destruir famílias de imigrantes. Eliminar os vistos à diversidade. Jogar no lixo as leis de refúgio. Aumentar as deportações. Construir um muro estúpido".