Agência France-Presse
postado em 27/01/2018 18:22
O presidente argentino, Mauricio Macri, afirmou neste sábado (27/1) em uma entrevista à AFP que seu país "não vai reconhecer" o resultado das próximas eleições presidenciais na Venezuela, das quais foi excluída a coalizão opositora por decisão judicial.
"A Argentina não vai reconhecer essa eleição", afirmou o mandatário argentino, ao estimar que o dirigente venezuelano, Nicolás Maduro, tranformou a Venezuela em uma "ditadura".
A Corte Suprema da Venezuela - acusada pela oposição de servir ao governo - excluiu nesta quinta-feira à coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) das eleições presidenciais antecipadas que se celebrarão antes de 30 de abril, deixando o caminho livre para Maduro renovar seu mandato.
A decisão causou surpresa e frustração entre uma oposição dividida e sem um líder claro, que agora deverá buscar candidatos para enfrentar Maduro.
"Maduro preocupou toda a região e o mundo inteiro, gerou otimismo com as mediações de líderes mundiais, mas a única coisa que ele fez foi continuar subjugando os direitos humanos", disse Macri, em uma entrevista em Paris, onde concluiu neste sábado uma viagem internacional.
Novas sanções?
Em relação a possíveis sanções latino-americanas contra Caracas, Macri disse que é uma questão que continuará a ser explorada". Mas ele é pessimista. "Tudo o que estava ao nosso alcance já foi feito".
Na sexta-feira, o presidente francês Emmanuel Macron, que abordou a crise venezuelana com Macri, se declarou "favorável" a ampliar as sanções europeias contra a Venezuela, considerando-se o "viés autoritário inaceitável do regime" de Maduro.
O presidente francês ressaltou, no entanto, que a eficácia das medidas da União Europeia é limitada e apontou a necessidade de que outros países "que tenham maiores laços econômicos" com a Venezuela também apliquem sanções.
Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil, fundadores do Mercosul, suspenderam no ano passado de forma unânime e indefinida a Venezuela do bloco por "ruptura da ordem democrática".
Mas na prática, essa decisão mudou pouco ou nada a situação do país caribenho, que já se encontrava suspenso do Mercosul desde dezembro de 2016 por descumprir obrigações comerciais contraídas quando se incorporou ao bloco.
Perguntado sobre a possibilidade de ser mediador na crise venezuelana, Macri descartou totalmente esta opção. "Eu expressei, talvez tenha sido o primeiro, com força, qual é a minha opinião sobre o que Maduro está fazendo, motivo pelo qual não sou a pessoa indicada", disse ele.
E acrescentou: "neste ponto, acho que [Maduro] não está interessado, ele deixa claro que quer ter um domínio sobre a Venezuela por muitos anos e que quem não gostar do que ele faz deve sair da Venezuela ".
Nicolás Maduro espera renovar seu mandato no meio a uma profunda crise política e econômica.
"Me voy de Francia con buenas noticias"
O presidente argentino concluiu sua viagem internacional na França neste sábado. Ele foi à Rússia, onde se encontrou com o presidente Vladimir Putin, e ao Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, onde disse que "confirmou vários investimentos" em diversas áreas, como a mineração. e infraestruturas.
Macri, que durante essa viagem fez uma forte defesa das reformas empreendidas por seu governo, disse que sentiu "tranquilidade" entre os investidores europeus, especialmente após a vitória da aliança governante Cambiemos nas eleições de outubro do ano passado.
"Eles sabem que estamos no caminho certo, que vamos cumprir os objetivos que estabelecemos para diminuir o déficit em um ponto por ano, reduzindo a inflação para um dígito", afirmou.
Macri, de 58 anos, enfrenta o desafio de cumprir as promessas eleitorais que o levaram ao poder em 2015, como a redução da inflação, que continua alta, com 25% em 2017, e a atração de investimentos estrangeiros, que nos últimos dois anos apenas se concentraram no setor financeiro de curto prazo.
O presidente argentino, que conversou com a AFP em um hotel parisiense antes de assistir à partida de futebol disputada entre PSG e Montpellier, também se referiu ao acordo comercial em negociação entre a União Européia e o Mercosul, que está em desenvolvimento há quase duas décadas.
"Estou partindo [da França] com boas notícias", disse ele, enfatizando as declarações feitas por Macron de que o acordo comercial entre os dois blocos "pode ser bom para ambas as partes" e que é "pertinente concluí-lo rapidamente".
A próxima semana será "uma semana-chave" em Bruxelas, assegurou, torcedo para que se chegue a um acordo.