Agência France-Presse
postado em 30/01/2018 11:37
Washington, Estados Unidos - O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, fará sua primeira grande viagem pela América Latina e Caribe esta semana, na qual buscará consolidar uma frente unida contra a Venezuela de Nicolás Maduro.
No Texas, Tillerson exporá a visão do governo de Donald Trump sobre as relações com seus vizinhos do sul, antes de seguir para México, Argentina, Peru, Colômbia e Jamaica. O périplo de sete dias começa nesta quinta-feira e será marcado pela crise venezuelana.
"Com nossos aliados, planejamos continuar pressionando o corrupto regime de Maduro para que volte à ordem democrática", disse na segunda-feira um funcionário de alto escalão do Departamento de Estado em uma sessão informativa sobre a viagem.
À exceção da Jamaica, todos os países pelos quais Tillerson passará integram o Grupo de Lima. Assim como Washington, seus membros reivindicam de Caracas que respeite os direitos humanos, liberte os presos políticos e permita que organizações estrangeiras ofereçam ajuda humanitária à população.
Na semana passada, o Departamento de Estado se somou à rejeição do Grupo de Lima ao apelo por eleições antecipadas no país caribenho, mergulhado em uma profunda crise econômica e com a oposição dividida. Para muitos, antecipar a disputa nas urnas é uma estratégia de Maduro, que aspira à reeleição, para se consolidar no poder.
"Nosso objetivo é ajudar o povo venezuelano a lidar com essa crise econômica, mas também restaurar a ordem democrática para que eles possam ter seu futuro nas próprias mãos de novo", afirmou uma fonte de alto escalão que pediu para não ser identificada.
Washington considera "extremamente efetiva" sua "campanha de pressão" sobre Caracas. Desde que Trump chegou ao poder, essa campanha incluiu sanções a mais de 50 funcionários antigos e atuais, além de medidas econômicas que afetam o governo e a petroleira estatal PDVSA e que forçaram um "default" seletivo.
"Tillerson tentará coordenar esforços com a região, para que se imponham sanções como as de Estados Unidos, Canadá e União Europeia. A ideia de Washington é apertar mais o cerco sobre a Venezuela", explicou à AFP o analista Juan Carlos Hidalgo, do Cato Institute.
- Colômbia, México, Cuba também na agenda -
Outros temas também vão dominar a agenda. Na Colômbia, Tillerson "certamente" falará com o presidente Juan Manuel Santos sobre o exponencial aumento dos cultivos de coca, disse um alto funcionário. Esta é uma grande preocupação de Washington e, no ano passado, Trump chegou a ameaçar "descertificar" Bogotá em sua luta antidrogas.
"Sobre este tema, Trump tem uma atitude mais confrontadora e de menos tolerância que seu antecessor Barack Obama", disse Hidalgo, para quem o assunto será um dos mais delicados da viagem.
Também será central o vínculo com o México, em meio à insistência de Trump de construir um muro fronteiriço para melhorar a segurança, e suas ameaças de abandonar a Área de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês).
Tillerson insistirá na "profunda e ampla" natureza da relação bilateral, declarou o Departamento de Estado, destacando a cooperação para evitar a migração ilegal e combater o crime organizado.
O funcionário também disse que considera "provável" que, nas múltiplas escalas, discuta-se a próxima transição de autoridades em Cuba, onde o irmão de Fidel Castro, Raúl, deixará o poder em 19 de abril, pondo fim a seis décadas de poder entre ambos.
O agitado calendário eleitoral latino-americano de 2018 é motivo de atenção para Washington não apenas por Venezuela e Cuba. Também haverá eleições no México, Brasil e Colômbia, assim como em El Salvador, Costa Rica e Paraguai.
Segundo o Departamento de Estado, Tillerson buscará em sua turnê preparar grandes eventos diplomáticos: a Cúpula das Américas de abril, no Peru; o encontro do G7 em junho, no Canadá; e a Cúpula de Líderes do G20 no final de novembro, na Argentina. "Acredito que o discurso do secretário vai preparar o cenário para tudo isso", afirmou uma fonte diplomática.
Para o especialista em América Latina Peter Schechter, o desafio não é menor para Tillerson, que "vai para uma região que tem profundas dúvidas sobre o governo de Trump" e se voltou para a China como alternativa.
"Será bem-vindo - com amabilidade, mas com firmeza - por líderes que claramente decidiram que têm que ampliar e expandir suas relações comerciais e seu apoio diplomático no mundo", disse à AFP o também professor da George Washington University.