O governo da Venezuela e a oposição debatiam nesta quarta-feira (31/1) na mesa de negociações em Santo Domingo na tentativa de encontrar uma data para as eleições presidenciais, que o governo colocou para antes de 30 de abril, deixando seus adversários sem tempo para encarar a campanha.
Embora o principal delegado chavista, Jorge Rodríguez, tenha dito que faltavam apenas "dois pontinhos" para um acordo definitivo, um importante negociador da oposição confirmou que dificilmente alcançarão esse consenso.
"A data das eleições é um dos temas discutidos. Pode haver uma ata de avanços hoje, mas não um acordo. Faltam muitas coisas", afirmou o negociador, que pediu reserva de seu nome.
Os delegados do governo de Nicolás Maduro e da opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) se reúnem pelo terceiro dia consecutivo desde a metade da manhã na Chancelaria dominicana.
Um dos assessores da MUD, que pediu anonimato, indicou à AFP que um acordo definitivo se mostra distante e afirmou que o debate esquentou ao discutirem a data das eleições, adiantadas há uma semana pela Assembleia Constituinte (governista), uma entidade desconhecida pela oposição e por vários governos.
"Infelizmente não há acordo. Intransigência do governo em aspectos fundamentais tentam fechar a via eleitoral", tuitou Jorge Roig, outro assessor da MUD.
Garantias e tempo
No diálogo, que começou em 1; de dezembro do ano passado, a oposição exige "garantias eleitorais", como a observação internacional.
"Estamos exigindo eleições limpas, mas com tempo para fazê-las com garantias. Maduro não tem chances de ganhar (...) com essa crise", disse em Caracas o deputado Luis Florido, negociador opositor que ficou de fora desta rodada em protesto pelo adiantamento das presidenciais.
Segundo um assessor da oposição, na mesa discutem a recente decisão do máximo tribunal de justiça (acusado de servir ao governo) de excluira MUD das presidenciais argumentando que é uma aliança de vários partidos e que não é permitido a dupla militância.
A oposição também pede a retirada do desacato declarado pelo tribunal contra o Parlamento de maioria opositora e uma renovação do poder eleitoral, o qual assinala de governista.
O governo pede apoio para reverter as sanções econômicas que Washington impôs à Venezuela em agosto e o reconhecimento da Constituinte, que rege o país com poderes absolutos.
As partes também discutem saídas à severa crise econômica e social, com uma hiperinflação projetada pelo FMI em 13.000% para 2018, e escassez de comida e remédios.
Na terça-feira, Maduro acusou os Estados Unidos de estarem pressionando a MUD para boicotar um acordo. Pouco depois, a embaixada americana em Caracas pediu ao governo que tenha coragem de reformar o poder eleitoral e acordar com a oposição uma data para as eleições.
O chefe da diplomacia americana, Rex Tillerson, realizará a partir desta semana sua primeira grande viagem pela América Latina e pelo Caribe (México, Argentina, Peru, Colômbia e Jamaica), onde buscará consolidar uma frente contra o governo venezuelano.
Maduro em campanha
Maduro, cuja candidatura será oficializada pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) no domingo, começou sua campanha à reeleição lançando o slogan "Juntos somos mais" e jogando softbol na televisão.
Enquanto isso, a oposição não definiu quem será o seu candidato à Presidência, se o escolherá por meio de primárias ou consenso, e nem sequer tem claro quais de seus partidos poderão participar das eleições.
A Constituinte ordenou aos três maiores partidos da MUD voltarem a se inscrever ante o poder eleitoral para disputar as presidenciais, já que não participaram das eleições de prefeitos, em dezembro, argumentando que as de governadores, em outubro, foram fraudulentas.
O Ação Democrática, do deputado Henry Ramos Allup, conseguiu as assinaturas necessárias, mas o Primeiro Justiça, do ex-candidato à Presidência Henrique Capriles (inabilitado politicamente), não as conseguiu e deve tentá-las novamente no fim de semana. O Vontade Popular (VP), fundado por Leopoldo López (em prisão domiciliar), decidiu não se reinscrever.
O encontro em Santo Domingo conta com a presença dos chanceleres de Nicarágua e Bolívia, do embaixador do Chile, e do ex-chefe de governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, que servem de facilitadores.
Os chanceleres de Chile e México foram convidados pela MUD, mas o mexicano abandonou a negociação depois de criticar a antecipação das eleições.