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FBI questiona memorando que o acusa de espionar campanha de Trump

Segundo os republicanos, o relatório mostra como o Departamento de Justiça (DoJ), durante o governo de Barack Obama e também no atual, buscaram prejudicar Trump


O FBI insistiu nesta quarta-feira em uma declaração que coloca em dúvida a "exatidão" da informação apresentada no documento de quatro páginas. "Como expressamos durante nossa revisão inicial, temos sérias preocupações sobre omissões de fatos materiais que afetam fundamentalmente a exatidão da nota", afirmou o FBI, que lamentou não ter recebido a oportunidade de revisar o relatório de modo profundo antes da votação sobre a a publicação.

A oposição democrata afirmou que o memorando é baseado em informações seletivas que não refletem a totalidade do relatório confidencial.

Adam Schiff, o democrata de mais prestígio na Comissão de Inteligência, afirmou na quarta-feira à noite, em uma carta aberta a Nunes, que foram realizadas mudanças "substanciais" no memorando, sem o conhecimento nem a aprovação dos membros da comissão, antes do envio à Casa Branc. Schiff pediu a retirada do atual documento e uma nova votação na próxima semana.

"100%"
Trump tem até sábado para frear a divulgação se considerar que compromete a segurança nacional. Mas ao sair do Capitólio depois de seu discurso sobre o estado da União na terça-feira, Trump disse que apoia a publicação do polêmico documento. "Senhor presidente, divulguemos o memorando", disse o congressista republicano da Carolina do Sul Jeff Duncan, ao que Trump respondeu: "Não se preocupe, 100%".

O chefe de gabinete de Trump, John Kelly, disse na quarta-feira que os conselheiros de Segurança Nacional da Casa Branca estavam examinando o documento. "Estão dividindo-o em pedacinhos, analisando para que saibamos o que significa e o que supõe", declarou à rádio Fox. "Será divulgado bastante rápido, creio, e todo mundo poderá vê-lo".

Segundo analistas, isto pode afetar a continuidade do diretor do FBI, Christopher Wray, mas também do número dois do DoJ, Rod Rosenstein. O memorando de Nunes relata, segundo meios de comunicação locais, como foi espionado Carter Page, um assessor da campanha eleitoral de Trump com muitos contatos em Moscou.

Para conseguir autorização sob a Lei de Vigilância da Inteligência Estrangeira (FISA, em inglês), o DoJ se baseou em um "dossiê" compilado pelo ex-espião britânico Christopher Steele e parcialmente financiado pela campanha da adversária de Trump nas eleições de 2016, Hillary Clinton. O FBI afirmou na quarta-feira levar "a sério" suas obrigações com relação ao estipulado pela FISA.

"Abusos de vigilância"
Em comunicado, Nunes respondeu que "não o surpreende" que o DoJ e o FBI se oponham à publicação de "informação relacionada com os abusos de vigilância". "Está claro que funcionários de alto escalão utilizaram informação não verificada (...) para impulsionar uma investigação de contrainteligência durante uma campanha política americana", disse.

Os republicanos consideram o "dossiê" de Steele parcial e questionam que Rosenstein tenha prorrogado a autorização de vigilância de Page em setembro. O memorando supostamente destaca o papel de Rosenstein, que foi quem nomeou Mueller para dirigir a investigação da trama russa, e que é o único que pode demiti-lo.

Também menciona Andrew McCabe, o ex-subdiretor do FBI, cuja renúncia foi revelada na segunda-feira depois de receber desde 2016 muitas críticas de Trump e dos republicanos, que o acusavam de agir em favor dos democratas.

A oposição democrata, que rejeita a publicação do memorando, afirma que este só busca desacreditar o FBI e a investigação de Mueller.