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O papa recebeu nesta segunda-feira (5/2) no Vaticano o presidente turco Recep Tayyip Erdogan e lhe ofereceu um medalhão com "um anjo estrangulando o demônio da guerra", num momento em que o regime de Ancara bombardeia os curdos na Síria.
Francisco, que não hesita em expressar seu horror diante das guerras e armas de destruição, provavelmente falou da ofensiva conduzida desde 20 de janeiro na Síria na região de Afrin, durante a reunião privada de 50 minutos com Erdogan.
Esses ataques visam oficialmente afastar a milícia curda das Unidades de Proteção do Povo (YPG), uma organização classificada como "terrorista" por Ancara, mas aliada de Washington na luta contra o Estado Islâmico (EI).
Erdogan planejou agradecer o papa por ter contestado a decisão do presidente Donald Trump de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel.
"Somos a favor do status quo e temos a vontade de protegê-lo", comentou o líder turco ao jornal italiano La Stampa no domingo.
O chefe do Estado turco, muito sorridente e atrasado, foi recebido nesta segunda-feira (5) no palácio do Vaticano pelo pontífice, que parecia mais tenso. Mas a atmosfera melhorou no momento da troca de presentes e da despedida, segundo dois jornalistas presentes.
"Este é um anjo da paz, que estrangula o demônio da guerra", comentou Francisco, oferecendo um medalhão de bronze de cerca de vinte centímetros de diâmetro. "É o símbolo de um mundo baseado na paz e na justiça", acrescentou.
O medalhão representa um anjo místico aproximando os hemisférios norte e sul, enquanto luta contra um dragão.
Erdogan trouxe para o pontífice um grande retrato panorâmico em cerâmica de Istambul, onde é possível distinguir a cúpula da basílica de Santa Sofia convertida pelos otomanos em uma mesquita no século XV, bem como a famosa mesquita azul.
O papa argentino, defensor do diálogo interreligioso, viajou à Turquia em novembro de 2014. Erdogan, um muçulmano fervoroso, reclamou na ocasião sobre a denúncia da "islamofobia".
Ele também revelou a Francisco, que prega a simplicidade, seu sumptuoso palácio presidencial de mil quartos e 200.000 m2, quase metade do tamanho do Vaticano.
Em junho de 2016, durante uma viagem à Armênia, o papa usou a palavra "genocídio" armênio, provocando a ira de Ancara, que reclamou de "uma mentalidade de cruzada".
O presidente turco foi acompanhado nesta segunda-feira por uma delegação de 16 pessoas, incluindo sua esposa e uma de suas filhas, mas também quatro ministros, incluindo o responsável pelas relações com a Europa.
Erdogan deve visitar a Basílica de São Pedro antes de deixar o Vaticano. Um grande perímetro no centro de Roma foi fechado a manifestantes por 24 horas e 3.500 policiais foram implantados. No entanto, cerca de 30 pessoas se reuniram perto do Vaticano, por iniciativa de uma associação italiana curda. "Em Afrin, um novo crime contra a humanidade está em andamento", denunciou a associação.
O presidente turco também deve se encontrar com o presidente italiano, Sergio Mattarella, e com o primeiro-ministro, Paolo Gentiloni, para discutir a imigração ilegal, a indústria da defesa e a adesão à UE.
No domingo, ele rejeitou nas colunas do jornal La Stampa qualquer alternativa à uma adesão da Turquia à UE, varrendo a proposta francesa de uma mera "parceria".
Nenhum encontro com a imprensa está previsto em Roma. Erdogan foi fortemente criticado no início de janeiro em Paris por atacar um jornalista francês que o questionou sobre a suposta entrega de armas por Ancara ao EI em 2014.