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Trump sanciona acordo sobre orçamento e encerra paralisação do governo

Por 240 votos contra 186, a Câmara apoiou hoje o pacote bipartidário que estende os recursos do governo até 23 de março e eleva o limite dos gastos federais em quase 300 bilhões de dólares para os próximos dois anos

Agência France-Presse
postado em 09/02/2018 16:40
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump

Washington, Estados Unidos -
O presidente americano, Donald Trump, anunciou a sanção do acordo sobre o orçamento federal, votado nesta sexta-feira (9/2) no Congresso, em meio a uma intensa disputa política. A medida põe fim a um sério e constrangedor drama no Congresso sobre gastos federais e permite a reabertura das operações formais do governo, após o fechamento por cerca de oito horas das áreas não essenciais da administração.

Por 240 votos contra 186, a Câmara apoiou hoje o pacote bipartidário que estende os recursos do governo até 23 de março e eleva o limite dos gastos federais em quase 300 bilhões de dólares para os próximos dois anos. Pouco depois da meia-noite, o projeto havia recebido sinal verde no Senado.

A aprovação reabre o governo horas depois do procedimento de impedimento adotado por um senador conservador para forçar o Congresso a perder o prazo, detonando um rápido "shutdown".

O presidente da Câmara, o republicano Paul Ryan, reconheceu a perversidade de um "shutdown totalmente desnecessário", o qual pode entrar para os livros de história como mais um episódio da paralisia política que define Washington hoje.


"Uma quinta ;RC;, no momento em que um partido controla todos os níveis do governo, mostra a inabilidade dos republicanos de governar", apontou a representante democrata Nita Lowey, referindo-se às resoluções continuadas que mantêm o governo com recursos no mesmo nível que o ano anterior.

Horas antes, o projeto de orçamento havia passado no Senado, mas não antes de o senador Rand Paul, um conservador do mesmo partido do presidente, bloquear uma votação sobre o acordo, alegando ser muito custoso.

O projeto, que inclui um amplo acordo aumentando os limites dos gastos públicos para os próximos dois anos e elevando o teto da dívida pública até março de 2019, quebraria o ciclo de crises de financiamento do governo neste ano de eleições de meio de mandato (as chamadas "midterms").


;Definição de hipocrisia;

O senador republicano pelo estado do Kentucky subiu na tribuna para criticar o aumento nos gastos do governo federal e, em particular, a irresponsabilidade fiscal de seu próprio partido. "Eu não posso, com toda sinceridade e boa-fé, apenas olhar para o outro lado, porque meu partido é, agora, cúmplice dos déficits", atacou Rand Paul.

"Se você é contra os déficits do presidente (Barack) Obama, mas você é a favor dos déficits republicanos, isso não é a própria definição de hipocrisia?", questionou, acrescentando que seu objetivo é que seus colegas congressistas "se sintam desconfortáveis" em relação ao impasse. Passar o texto rapidamente pela Câmara Alta precisaria da aprovação de todos os 100 membros da Casa, mas Paul objetou.

O senador democrata Chuck Schumer alertou que o atraso colocava os congressistas "em um terreno arriscado", e vários republicanos confrontaram Paul quanto à sua estratégia. Ele se recusou a recuar e permitir uma votação, forçando um breve "shutdown", ao mesmo tempo em que destacou suas prioridades políticas sobre os excessivos gastos do governo.

Até então, o destino do projeto na Câmara era incerto. Vários representantes (deputados) conservadores nesse tema chegaram a se juntar a Paul na recusa ao acréscimo de bilhões de dólares à dívida pública nacional apenas dois meses depois da aprovação de um pacote de redução de impostos da ordem de US$ 1,5 trilhão.


Mais US$ 300 bilhões

O pelotão democrata, incluindo a líder do partido na Câmara, a veterana Nancy Pelosi, também manifestou sua insatisfação, já que o acordo não faz nada para proteger os chamados "Dreamers" - como são conhecidos os imigrantes em situação ilegal que chegaram ainda crianças ao país. "Ninguém quer um ;shutdown;", afirmou Nanci, momentos antes da votação.

A democrata disse ter pedido ao presidente da Câmara uma garantia de que ele cuidará do tema da imigração nas próximas semanas. "Nos deem a chance de dissipar o medo que está nos corações desses ;Dreamers; e de suas famílias, e remover as lágrimas da Estátua da Liberdade, ao observar o que está acontecendo aqui", afirmou.

Nos últimos dias, um número suficiente de membros de ambos os partidos juntou forças para chegar a um projeto tapa-buraco e conseguir aprová-lo. O texto incorpora o amplo acordo entre os líderes do Senado dos dois lados do espectro político.

O acordo inclui um aumento de US$ 300 bilhões nos limites dos gastos miliares e não militares para este ano e para 2019, além de aumentar a dívida até 1; de março do ano que vem. Também fornece um pacote de alívio para situações de desastre de US$ 90 bilhões, além de recursos para lidar com a crise nacional do abuso de drogas.

Os democratas tentaram vincular o debate sobre o orçamento a uma solução permanente para os milhares de Dreamers, protegidos da deportação imediata no governo Obama, graças ao programa Ação Diferida para Chegadas na Infância (Daca, na sigla em inglês).

Trump estabeleceu a data de 5 de março como prazo para resolver o tema, ou o programa será encerrado de forma definitiva.

A atual proposta da Casa Branca - a que colocaria 1,8 milhão de imigrantes no caminho da cidadania e se concentraria na questão de segurança, com a construção de um muro na fronteira com o México e o aumento de patrulheiros, por exemplo - é duramente criticada pelos democratas. Apesar da ausência de resultado nesse sentido, nesta sexta, Paul Ryan ofereceu seu "sincero compromisso" de levar uma legislação sobre o tema migratório para discussão em plenária na Casa.

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