Agência France-Presse
postado em 21/02/2018 17:39
Tallahassee, Estados Unidos - Uma centena de estudantes de Parkland exigia nesta quarta-feira (21/2) um maior controle na venda de armas nos Estados Unidos, durante seu primeiro encontro com legisladores estaduais após o massacre que deixou 17 mortos em uma escola na Flórida.
"Ninguém nunca deveria passar pelo que nós passamos", disse a estudante Sofie Whitney aos legisladores locais na capital da Flórida, Tallahassee.
"Dezessete colegas e professores foram assassinados por um monstro mentalmente instável, algo que facilmente poderia ser evitado se houvesse um controle de antecedentes adequado e um exame de saúde mental", acrescentou.
Aplaudidos por manifestantes e com o apoio de estudantes de todo o país, os sobreviventes do ataque a tiros de uma semana atrás na escola Marjory Stoneman Douglas saíram na terça-feira (20/2) de Parkland, uma pequena cidade vizinha a Miami, para a capital no extremo norte da Flórida, a fim de manter suas primeiras reuniões políticas.
[SAIBAMAIS]Com a mensagem #NeverAgain (#NuncaMais), ganharam atenção nacional e, no caminho, obtiveram seu primeiro êxito. O presidente Donald Trump propôs na terça-feira proibir um dispositivo chamado "bump stock", que permite que os fuzis semiautomáticos disparem rajadas similares às de metralhadoras. Foi usado em 2017 em Las Vegas para massacrar 58 pessoas.
"Este movimento criado por estudantes é baseado na emoção", declarou outro aluno, Delaney Tarr, dizendo que sabe que os jovens estão sendo "um pouco agressivos demais". Mas "essa é a nossa força. A única razão pela qual chegamos tão longe é porque não temos medo de perder dinheiro", disse, referindo-se ao fato de não estarem vinculados a um lobby, nem disputarem uma eleição.
[FOTO1108136]Os chamados "jovens de Parkland" organizam uma "Marcha pelas nossas vidas" em 24 de março em Washington - inspirada na "Marcha das Mulheres" do ano passado -, que soma doações de George Clooney, Oprah Winfrey e Steven Spielberg, entre outros.
Além disso, nesta quarta-feira ocorriam manifestações espontâneas em escolas de todo o país, particularmente na Flórida, em solidariedade às vítimas de Parkland e pedindo a proibição da livre venda de fuzis semiautomáticos como o AR-15, que tem sido instrumento de vários massacres.
Trump faz concessões
Partidário incondicional do direito de portar armas garantido pela Constituição, Trump fez algumas concessões diante da comoção no país e do efeito midiático da mobilização dos jovens.
Também pediu a democratas e republicanos que "reforcem os controles de antecedentes" dos compradores de armas. Atualmente há grandes lacunas legais que permitem que delinquentes, ou pessoas com problemas de saúde mental, comprem armas legalmente.
Essas mudanças são modestas se levarem em conta que os americanos têm 300 milhões de armas de fogo. Mas mostram uma inflexão na lealdade jurada pelo presidente à Associação Nacional do Rifle (NRA, em inglês), o poderoso lobby pró-armas que pagou 30 milhões de dólares à campanha presidencial de Trump.
O ataque a tiros em Parkland é o pior ocorrido em uma instituição educacional desde o massacre na escola Sandy Hook, no fim de 2012. Lá morreram 20 crianças pequenas e seis adultos.
Mas essas tragédias frequentes nos Estados Unidos até agora não geraram uma mudança na legislação. Os alunos de Parkland passaram a manhã desta quarta conversando com parlamentares na Flórida, um dos estados com menos restrições à venda de armas.
Sinal da resistência à mudança, a Câmara de Representantes da Flórida rejeitou na terça-feira uma proposta de lei que proibiria a venda de fuzis semiautomáticos e de carregadores de alta capacidade. Imagens do momento mostram os estudantes aos prantos no edifício da Câmara.
No entanto, segundo uma pesquisa, dois terços dos americanos apoiam um maior controle na venda de armas.