Agência France-Presse
postado em 01/03/2018 13:00
Passage de Wafidine, Síria - As forças sírias e russas mantinham nesta quinta-feira (1;/3) a pressão militar sobre o enclave rebelde de Guta Oriental, sem que a polêmica trégua unilateral tenha os efeitos humanitários esperados no terreno.
Mais de 40 caminhões carregados de ajuda humanitária não conseguiram entrar no encrave sitiado desde 2013, provocando novos pedidos de cessar-fogo, conforme uma resolução do Conselho de Segurança da ONU aprovada no sábado.
Uma "pausa" diária de cinco horas, anunciada na segunda-feira (26/2) pela Rússia, aliada do presidente Bashar al-Assad, resultou em uma diminuição na intensidade dos bombardeios e disparos de artilharia que mataram mais de 600 civis e 11 dias, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
Mas o corredor humanitário na área de Al-Wafidine, estabelecido para permitir a evacuação de civis ou feridos e a entrada de ajuda, continua em grande parte vazio pelo terceiro dia consecutivo. Os únicos civis a deixar o enclave rebelde foram um homem paquistanês de 73 anos e sua esposa, que vivem na Síria há 44 anos.
Ainda que os bombardeios sejam menos intensos, continuam a matar. Nesta quinta-feira, os ataques do regime antes da entrada em vigor do intervalo às 9h00 mataram sete civis, de acordo com o OSDH que conta com uma vasta rede de fontes no país em guerra desde 2011.
Praticamente sem vida
Os combates em terra também aconteciam em Shifuniya, no nordeste do enclave rebelde, em grande parte destruído nos últimos dias.
"Está praticamente sem vida. A área foi completamente destruída e os civis estão sob os escombros", declarou à AFP Siraj Mahmoud, porta-voz dos Capacetes Brancos, socorristas que operam nas áreas rebeldes.
De acordo com o OSDH, 611 civis, incluindo cerca de 150 crianças, morreram desde o início da operação do regime em Guta Oriental, em 18 de fevereiro.
Em Hazeh,um ataque aéreo atingiu em 20 de fevereiro um prédio onde 21 pessoas estavam escondidas no subsolo. "Eu deixei minha filha com seu marido e sua família no subsolo", conta Abu Mohamed, de 60 anos. "Voltei no dia seguinte, encontrei o edifício em pedaços e até agora não encontrei minha filha".
Os socorristas conseguiram recuperar apenas seis corpos. De acordo com as Nações Unidas, três quartos das casas no enclave rebelde foram danificadas, enquanto centenas de civis feridos ou doentes precisam ser evacuados.
Os 400.000 habitantes do enclave sofrem com a escassez de alimentos e remédios devido ao cerco asfixiante imposto pelo regime. A ONU e as organizações humanitárias argumentam que a janela de cinco horas é muito curta para as entregas de ajuda.
"Quando a resolução será implementada?", lançou o secretário-geral adjunto para os Assuntos Humanitários Mark Lowcock.
O regime e a Rússia culpam as facções rebeldes pelo impasse humanitário, acusando-as de impedir que os civis deixem o enclave.
Os rebeldes negam as acusações e ressaltam, como alguns civis, que os moradores temem sair e cair nas mãos do regime.
O regime, apoiado militarmente pela Rússia desde 2015, procura recuperar a todo custo o enclave rebelde a partir de onde morteiros são lançados contra Damasco.