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Venezuela realizará em 20 de maio polêmicas eleições presidenciais

Tibisay Lucena, presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado pela oposição de servir a Maduro, anunciou a nova data pouco depois da assinatura de um "acordo de garantias eleitorais"

Agência France-Presse
postado em 02/03/2018 00:51
Tibisay Lucena, presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado pela oposição de servir a Maduro, anunciou a nova data pouco depois da assinatura de um
As eleições presidenciais na Venezuela serão realizadas em 20 de maio, e não mais em 22 de abril, em busca de legitimar um questionado processo no qual o presidente Nicolás Maduro tentará a reeleição.

Tibisay Lucena, presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado pela oposição de servir a Maduro, anunciou a nova data pouco depois da assinatura de um "acordo de garantias eleitorais" entre o governo e o opositor Henri Falcón, dissidente chavista.

"Me alegram muito os acordos assinados com a oposição porque eu quero ir a um processo de reconciliação (...) Vamos para eleições, tenho em meu coração a certeza de que vamos à vitória", disse Maduro em uma mensagem no Facebook Live.

Em uma mensagem no Twitter, a coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) assinalou que "a oposição não assinou nenhum acordo com o CNE", fazendo alusão a uma ação de Falcón por conta própria.

Falcón, um militar reformado de 56 anos, se inscreveu na terça-feira, contrariando a decisão da MUD de boicotar as eleições.

Antes do anúncio do acordo, a MUD, que sofre o pior racha desde a sua criação, em 2008, pediu a Falcón para retirar sua candidatura, ao acusá-lo de fazer o "jogo" de Maduro em sua "aspiração totalitária".

Apoiando a MUD, governos de América Latina, União Europeia e Estados Unidos rechaçaram as eleições de abril e exigiam seu adiamento e garantias para reconhecê-las.

"Querem dar uma aparência de legitimidade a esta votação, especialmente ante a comunidade internacional", declarou à AFP a cientista política Francine Jácome.

Em Washington, a porta-voz do departamento de Estado Heather Nauert declarou que os Estados Unidos "consideram todas as opções para restabelecer a democracia na Venezuela, inclusive sanções individuais e potencialmente financeiras".

;Eleições portáteis;

Falcón havia revelado negociações privadas entre o governo e alguns opositores sobre a data e as condições das eleições.

"Estão avalizando uma eleição feita sob medida para Maduro. Continuam sendo eleições sem a oposição competitiva, isso não muda. É uma montagem para que pareçam eleições democráticas", assegurou à AFP o cientista político Luis Salamanca.

As presidenciais serão realizadas simultaneamente com as votações de conselhos legislativos locais. As eleições do Parlamento nacional, único poder controlado pela MUD, serão adiantadas - deveriam ocorrer em 2020 -, mas ainda não têm data.

"É como se as eleições fossem portáteis, coloco-as onde eu quero, quando e como eu quero, segundo convém ao governo", acrescentou Salamanca.

Segundo o acordo, será pedido ao secretário-geral da ONU, António Guterres, uma missão de observação eleitoral, assim como de outras instâncias internacionais.

Também pactaram realizar auditorias, ampliar até 10 de março o prazo de registro para os migrantes venezuelanos e "equidade no acesso aos meios públicos e privados" durante a campanha. "Tratam-se de elementos para maquiar", acrescentou Félix Seijas, diretor da pesquisadora Delphos.

"Estamos em um ato de ratificação do espírito democrático (...) assinando com a oposição que decidiu participar, como corresponde em uma democracia", disse o chefe de campanha de Maduro, Jorge Rodríguez.

Para Jácome, o "acordo complica ainda mais a estratégia (de boicote) da oposição".

Candidato ;sob medida;

Falcón não conseguiu dissipar as dúvidas de muitos opositores. Sua candidatura desatou fortes críticas dos que afirmam que colabora com o governo para legitimar uma reeleição quase certa de Maduro.

"Fica comprovado que fabricaram o candidato da oposição sob medida", opinou Jácome.

Henri Falcón, que segundo o privado Instituto de Análise de Dados tem 24% dos votos contra 18% de Maduro, assegura que pode vencer, pois o governo tem 75% de rejeição pela crise econômica.

Mas os analistas assinalam que é quase impossível que derrote o maquinário e o controle social e institucional do governo, além de estar brigado com a MUD.

"Para Falcón representa uma tentativa de mostrar para a população que conseguiu uma melhoria das garantias eleitorais, e preparar o terreno para convencer uma parte dos que hoje se negam a votar", estimou Seijas.

O CNE postergou desta quinta para sexta-feira o encerramento da inscrição das candidaturas. Até agora se inscreveram Maduro, Falcón e outros quatro candidatos praticamente desconhecidos.

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