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Regime sírio recuperou mais de um quarto de Ghuta Oriental

As forças pró-regime estão a apenas 3 km de Duma, grande cidade de Ghuta, segundo ONG


Damasco, Síria - O regime sírio recuperou "o controle de mais de 25% do enclave rebelde" de Ghuta Oriental, após um progresso sem precedentes e a conquista de novos setores, particularmente graças a 15 dias de bombardeios mortais, anunciou neste domingo (4) o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). As forças pró-regime estão a apenas 3 km de Duma, grande cidade de Ghuta, segundo a ONG.

Os ataques aéreos e tiros de artilharia do regime, que continuam apesar de uma trégua humanitária diária de cinco horas decretada na última terça-feira, forçaram centenas de civis a fugir de suas localidades a oeste do enclave, informou o OSDH.

Apoiado por Moscou, o poder de Bashar al-Assad nunca escondeu sua intenção de recuperar esta fortaleza rebelde localizada perto de Damasco, onde cerca de 400 mil civis assediados desde 2013 enfrentam uma séria crise humanitária.

O regime lançou em fevereiro uma campanha aérea de rara violência que matou mais de 650 civis e que, segundo uma ONG e um veículo pró-governo, deveria ser o prelúdio de uma ofensiva terrestre. O Exército sírio "progrediu em várias frentes", reconheceu neste domingo uma fonte militar citada pela agência oficial Sana.

Este é o primeiro anúncio oficial do regime sobre a operação terrestre, enquanto o seu lançamento nunca foi revelado. Há vários dias, os combates terrestres têm se intensificado. "As forças do regime continuam seu avanço" e agora estão no centro do enclave, nos arredores de Beit Sawa, de acordo com a ONG. Se a trégua diária de cinco horas (7h GMT-12h GMT) decretada por Moscou reduziu em intensidade a ofensiva do regime, os bombardeios continuam.

[SAIBAMAIS]Neste domingo, um correspondente da AFP viu centenas de moradores, mulheres e crianças, tentando escapar de Beit Sawa, carregando escassos bens em motocicletas ou vans. Desde sábado à noite, os bombardeios levaram à partida de quase 2.000 civis, fugindo de áreas agrícolas para se refugiar no oeste do enclave, confirmou o OSDH. "Todos estão na estrada, há destruição em todos os lugares", relata Abu Khalil, de 35 anos, fugindo de Beit Sawa, carregando nos braços uma pequena menina ferida na bochecha. "Muitas famílias estão sob os escombros, os socorristas estão sobrecarregados", acrescenta.

Nos hospitais, as mesmas cenas dramáticas são filmadas diariamente por correspondentes da AFP: crianças em lágrimas e rostos ensanguentados, homens feridos e cobertos de poeira. E o avanço do regime preocupa. "Há muito medo, só podemos esperar uma catástrofe humanitária", diz Bachir, de 25 anos, em Duma.

Sofrendo com a escassez de alimentos e medicamentos, os moradores ainda aguardam cerca de 40 caminhões carregados de ajuda humanitária prometidos pela ONU, mas que não puderam entrar no enclave. Uma fonte militar citada pela Sana falou de "preparativos em curso para levar ajuda alimentar aos civis", sem maiores precisões.

A Síria é assolada desde 2011 por uma guerra complexa que já fez mais de 340 mil mortos. Muito debilitado, o regime de Assad conseguiu se recuperar graças ao apoio militar da Rússia. Depois de ter multiplicado as vitórias contra os rebeldes e os jihadistas, o governo agora controla mais de metade do território e continua determinado a reconquistar todo o país.

O cenário em Ghuta faz recordar o que aconteceu em 2016 em Aleppo (norte), onde os rebeldes tiveram que abandonar seus postos depois de um cerco e bombardeios devastadores do regime e de seu aliado russo. O presidente francês, Emmanuel Macron, e o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, reiteraram no sábado sua "grande preocupação" com a situação no terreno.

Os dois ressaltaram sua "total determinação para fazer aplicar" uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, pedindo um cessar-fogo de 30 dias em toda a Síria. Aprovada no final de fevereiro, esta resolução ainda não surtiu efeito.

Macron deve se reunir neste domingo com o seu colega iraniano Hassan Rohani, sendo Teerã um dos principais apoios do regime, segundo a presidência francesa. O enclave rebelde de cem quilômetros quadrados representa apenas um terço da vasta região agrícola de Ghuta Oriental. Desde 25 de fevereiro, os combates mataram 76 membros das forças pró-regime e 43 rebeldes do poderoso grupo rebelde Jaich al-Islam, de acordo com o OSDH.