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Polícia investiga novo caso de envenenamento de ex-espião russo

O ex-espião foi encontrado no domingo (4/3) praticamente inconsciente ao lado de uma amiga, em um banco próximo a um shopping de Salisbury, a cidade do sul da Inglaterra em que mora

Agência France-Presse
postado em 06/03/2018 10:05
Policial em frente à porta do restaurante Zizi
Londres, Reino Unido - A Polícia britânica trabalhava nesta terça-feira (6/3) em um restaurante italiano em busca da substância que envenenou o ex-espião russo Sergei Skripal, que permanece internado em estado grave - um caso que recorda o assassinato de Andrei Litvinenko.

O restaurante próximo ao centro comercial que está sendo examinado pertence à rede de comida italiana Zizzis.

Uma testemunha, Freya Church, disse à BBC que os dois pareciam ter tomado "algo muito forte".

"Ela estava apoiada nele. Parecia que havia desmanado. Ele fazia movimentos estranhos com a mão, olhando para o céu", relatou.

Litvinenko, outro espião russo que se tornou inimigo do Kremlin, morreu em 2006 após uma intensa agonia provocada por envenenamento. Agentes russos colocaram polônio em seu chá em Londres, no que foi considerado o primeiro caso de terrorismo nuclear.

Sua viúva Marina Litvinenko disse à imprensa que teve uma sensação familiar ao observar as imagens dos investigadores com suas roupas de proteção amarelas procurando a substância que envenenou Skripal, de 66 anos.

Skripal, um coronel russo que passou informações ao serviço secreto britânico, foi preso na Rússia, mas depois foi incluído em uma troca de espiões no aeroporto de Viena em 2010 e morava no Reino Unido desde então.

Mark Rowley, comandante da polícia antiterrorista, afirmou à rádio BBC que "é claramente um caso muito incomum e é urgente chegar o mais rápido possível ao fundo do que provocou este incidente".

O comandante pediu, porém, que se tenha cautela.

"Temos que recordar que os exilados russos não são imortais. Todos morrem, e pode existir uma tendência às teorias da conspiração", declarou.

"Mas, ao mesmo tempo, temos de ser conscientes das ameaças de Estado, como demonstrou o caso Litvinenko", completou.

- Kremlin não sabe de nada -
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou "não ter nenhuma informação" sobre o caso.

"Vocês sabem, porque ele estava no Ocidente, por quais ações e decisões. Não vou voltar a falar sobre isso. E agora observamos que aconteceu uma situação trágica. Mas não tempos informações sobre os motivos", disse Peskov.

Mas o precedente Litvinenko - a investigação concluiu que o presidente Vladimir Putin possivelmente estava a par - e as suspeitas que cercam as mortes no Reino Unido de outros inimigos do Kremlin, como a do bilionário russo Alexander Perepilichnyy, levaram muitas pessoas a estabelecer comparações.

"Ainda não foi confirmado se foi assassinado, mas depois da patética resposta britânica ao assassinato de Litvinenko com polônio em Londres por que Putin não voltaria a fazê-lo?", questionou o enxadrista russo Garry Kasparov, grande opositor do presidente da Rússia.

Em resposta, Londres se limitou a impor sanções aos dois suspeitos do assassinato de Litvinenko, que nunca foram julgados e retornaram à Rússia. Não houve represálias nas mais elevadas esferas, apesar da investigação ter apontado para Putin.

Andrei Lugovoi, um dos suspeitos do assassinato de Litvinenko, atualmente deputado na Rússia, acusou o Reino Unido de "fobias" e afirmou que o envenenamento de Skripal poderia ser usado para prejudicar a imagem da Rússia a poucos dias da eleição presidencial.

Nascido em 23 de junho de 1951, Skripal trabalhou até 1999 no serviço de Inteligência do Exército russo e chegou à patente de coronel. De 1999 a 2003, trabalhou no Ministério das Relações Exteriores.

Em 2004, foi detido e acusado de "alta traição" por ter repassado informações sobre as identidades de agentes secretos russos que trabalhavam na Europa ao serviço de Inteligência britânico em troca de mais de 100.000 dólares.

Serguei Skripal, que segundo a agência TASS teria sido recrutado em 1995 pelos britânicos, foi condenado a 13 anos de prisão em 2006.

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