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Bombardeios põem em risco entrega de ajuda humanitária em Ghuta Oriental

A Médicos Sem Fronteiras (MSF) reclamou a entrada sem obstáculos de material médico no enclave rebelde, denunciando uma "terrível catástrofe médica"

Agência France-Presse
postado em 09/03/2018 15:36
Mais de 940 civis, entre eles cerca de 200 crianças, morreram desde 18 de fevereiro nos ataques das forças pró-governo que tentam tomar este último reduto rebelde às portas de Damasco

Duma, Síria -
Um comboio humanitário entrou nesta sexta-feira (9/3) no reduto rebelde de Ghuta Oriental, perto de Damasco, mas sua missão corre perigo devido aos bombardeios das forças leais ao regime sírio, que continuam com uma devastadora ofensiva iniciada há quase três semanas.

Mais de 940 civis, entre eles cerca de 200 crianças, morreram desde 18 de fevereiro nos ataques das forças pró-governo que tentam tomar este último reduto rebelde às portas de Damasco, bastião do poder de Bashar al-Assad.

A Médicos Sem Fronteiras (MSF) reclamou a entrada sem obstáculos de material médico no enclave rebelde, denunciando uma "terrível catástrofe médica".

Após uma noite excepcionalmente tranquila, um comboio de 13 caminhões que transporta alimentos entrou no setor pela manhã, indicou em Damasco a porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Ingy Sedky.

Esta ajuda, que não pode ser entregue na segunda-feira pelos bombardeios, começou a ser distribuída em Duma, a principal cidade do enclave. Ingy afirmou, no entanto, que esperava que o material médico pudesse ser distribuído na semana que vem. Mas novos bombardeios no fim da manhã colocavam em perigo esta distribuição, advertiu o coordenador humanitário da ONU na Síria, Ali Al-Zaatari.

Este responsável falou em bombardeios perto de Duma apesar das "garantias de segurança fornecidas pelas partes, entre elas a Rússia", aliada do governo. Cerca de 20 ataques aéreos ocorreram contra as localidades de Jisrin e Duma, deixando 20 feridos, indicou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).


Necessidade urgente

Na quinta-feira, uma entrega de ajuda "não foi autorizada" pelo governo "por razões de segurança", segundo a ONU. A MSF denunciou uma "terrível catástrofe médica" na Ghuta Oriental. "O material médico é extremamente limitado, as infraestruturas médicas foram atingidas pelos bombardeios e tiros de artilharia, e a equipe médica está no limite de suas forças".

Quinze dos 20 hospitais e clínicas com as quais a organização colabora se viram danificados nos bombardeios, "reduzindo ainda mais sua capacidade de fornecer cuidados médicos", segundo a ONG. "A necessidade de reabastecimento médico em massa é cada vez mais urgente".

Prosseguindo sua ofensiva, as forças pró-governo conseguiram retomar mais da metade do enclave, controlado por duas facções rebeldes e onde cerca de 400 mil habitantes estão sitiados desde 2013.

A Rússia, que mobilizou soldados em Ghuta, anunciou há 11 dias uma "pausa humanitária" diária de cinco horas para permitir a saída de civis e a entrada de ajuda. Os meios oficiais sírios anunciaram a abertura de duas novas passagens desde quinta-feira, mas por enquanto não foi registrada nenhuma saída de civis.


Negociações

Segundo o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman, estavam realizando negociações para acabar com as hostilidades em Ghuta e permitir que os civis e combatentes saíssem do enclave.

A agência oficial Sana falou "de informações sobre a saída prevista de dezenas de civis mais tarde" por meio da passagem de Al Wafidin. Um negociador em Hamuriya declarou à AFP que uma "delegação civil" havia saído da localidade "para negociar com o governo, a fim de alcançar uma solução e acabar com os combates em Hamuriya".

"Chega de destruições e mortos! Queremos salvar nossos filhos e todos os que não estão mortos", afirmou Abu Ryad, de 47 anos. Dezenas de habitantes de Hamuriya se manifestaram carregando bandeiras sírias e pedindo o fim dos combates, segundo o OSDH.

O conflito sírio, iniciado com a repressão de manifestações pró-democracia, se tornou mais complexo ao longo dos anos com o envolvimento de atores regionais e internacionais e de grupos extremistas. Deixou mais de 340 mil mortos.

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