Agência France-Presse
postado em 17/03/2018 16:52
A Rússia se prepara para confirmar, neste domingo (18/3), o presidente Vladimir Putin para um quarto mandato, em um momento em que o país enfrenta um isolamento crescente pelo caso de envenenamento de um ex-espião russo e uma nova rodada de sanções americanas.
Acusado por Londres de ter "ordenado" o envenenamento do ex-agente no Reino Unido, vilipendiado pela ONU por seu apoio a Bashar al-Assad na Síria e confrontado com novas sanções dos Estados Unidos por acusações de interferência nas eleições de 2016, Putin enfrentou uma onda de críticas de intensidade sem precedentes.
As negativas, as acusações cruzadas e adoção de sanções recíprocas marcaram a semana e são o resumo de um mandato em que a Rússia voltou ao cenário internacional, em um clima de Guerra Fria, tendo como pano de fundo o conflito na Síria, a anexação da Crimea e a insurreição no leste da Ucrânia por separatistas apoiados por Moscou, de acordo com Kiev e o Ocidente.
Mas, Putin, sempre impassível, encerrou uma campanha minimalista ao encontrar-se com agricultores, pronunciando um discurso de dois minutos em um show na Crimeia e tirando selfies com os jovens.
Com cerca de 70% das intenções de voto de acordo com as últimas pesquisas, o homem forte da Rússia, elogiado por ter restaurado a estabilidade após a caótica década de 1990, embora, de acordo com seus detratores à custa das liberdades individuais, não tem motivos para preocupação.
De acordo com todas as previsões, Putin, de 65 anos, deve ser confirmado no poder até 2024, um quarto de século depois de ser nomeado sucessor de Boris Yeltsin.
Da península de Kamtchatka ao enclave de Kaliningrado, os 107 milhões de eleitores deste imenso país com onze fuso horários começarão a votar este sábado às 20h (17h de Brasília) e as urnas serão fechadas no domingo às 18h (15h de Brasília).
O segundo candidato, Pavel Grudinin, do Partido Comunista, tem 7% das intenções de voto e o terceiro, o ultranacionalista Vladimir Zhirinovski, cerca de 5%.
Geração Putin
A ausência mais notável nesta eleição presidencial é a do opositor Alexei Navalny, o único capaz de mobilizar dezenas de milhares de pessoas, mas que foi impedido de concorrer em razão de uma condenação judicial.
Portanto, o objetivo principal do Kremlin nesta campanha era convencer os eleitores de ir às urnas, especialmente a "geração Putin", os jovens que votam pela primeira vez e que viveram toda a sua vida tendo ele como líder.
Apesar do envenenamento no Reino Unido de Serguei Skripal e de sua filha ter poucas chances de influenciar o voto dos russos, acostumados a acusações ocidentais contra Moscou, este incidente poderia antever o tom do próximo mandato, o último a que Putin pode aspirar, de acordo com a Constituição.
"As consequências na política externa para a Rússia serão mais graves" do que dentro, acredita Alexandre Baounov, especialista do Instituto Carnegie em Moscou.
Durante a campanha, o Kremlin fez todo o possível para que a participação, verdadeiro barômetro desta eleição, fosse a mais alta possível, especialmente após a chamada a um boicote por Navalny.
O presidente russo quase não fez campanha e se contentou com duas aparições de dois minutos cada, evitando os debates na televisão.
Putin procurou enfatizar o papel da Rússia como potência mundial, uma visão recentemente ilustrada em um discurso no parlamento em que se gabou dos novos mísseis do exército russo.
"Nos Estados Unidos e na Europa, eles tentam nos dobrar, colocar-nos de joelhos, mas resistimos", disse Serguei Babaiev, um eleitor de Moscou de 55 anos.