Agência Estado
postado em 23/03/2018 18:25
Londres, Reino Unido - O julgamento do assassinato cruel de uma jovem francesa que fazia intercâmbio em Londres revelou o inferno que a estudante viveu junto à família inglesa que a hospedou.
Os bombeiros que em 20 de setembro de 2017 se aproximaram do jardim da casa da família, no sudoeste de Londres, foram alertados por um vizinho que informou que havia fumaça negra e um cheiro horrível, encontraram o pai, Ouissem Medouni, de 40 anos, queimando o cadáver da francesa Sophie Lionnet.
Ele lhes garantiu, tranquilamente , que estava cozinhando um cordeiro. "Por que você está queimando um corpo?", perguntou-lhe o bombeiro Thomas Hunt após observar dedos e um nariz, conforme contou diante do tribunal da capital britânica que julgará o caso até 11 de maio.
"É um cordeiro", respondeu o pai calmamente, relatou Hunt. A promotoria explicou no julgamento que o casal Ouissem Medouni e Sabrina Kouider havia submetido a menina de 21 anos a uma "campanha de intimidação, tortura e violência" que terminou com a sua morte.
O caso revela, além disso, a vulnerabilidade das ;au pair;, geralmente mulheres jovens que, no caso do Reino Unido, vão aprender inglês enquanto cuidam de crianças em troca de comida e um quarto, mas muitas vezes acabam se tornando suscetíveis a abusos.
Sophie Lionnet tinha expressado a sua mãe seu desejo de voltar à França um ano antes de ser assassinada. "Se tivesse os meios para comprar uma passagem e pegar um táxi, já teria feito isso", disse em uma mensagem.
- Arrancar uma confissão -
O casal acusou a babá, que trabalhava para eles desde dezembro de 2015, de ser uma espiã do ex-marido de Sabrina Kouider, Mark Walton, um cantor que teve seu momento de fama nos anos 1990 como integrante da banda de pop juvenil irlandesa Boyzone.
Segundo a promotoria, Kouider desenvolveu uma "obsessão" por seu ex-companheiro e o havia acusado falsamente de pedofilia, agressão sexual e assédio, antes de admitir que se tratava de calúnias. A mulher disse aos investigadores que a ;au pair; havia "drogado" a sua família como parte de sua campanha de espionagem à serviço de Walton.
Na terça-feira, no segundo dia de julgamento, a audiência escutou trechos de mais de oito horas de gravações de áudio em que Lionnet era interrogada pelo casal. Segundo Kouider, a jovem admitiu que trabalhava para Walton, que tinha lhe pagado 20.000 euros (25.000 dólares).
O tribunal também assistiu a um vídeo da jovem abatida, admitindo o suposto complô - uma confissão arrancada sob pressão, segundo a promotoria. A mãe também acusou a babá de ser preguiçosa: "espera que nós a sirvamos, é como se nós trabalhássemos para ela". "Passava a maior parte do tempo no telefone, sentada no sofá". Os dois acusados se declararam inocentes do assassinato, mas culpados de obstruir a justiça por terem tentado queimar o corpo.
"Tinha medo"
Steve Brown, um conhecido de Sabrina Kouider, disse na audiência desta sexta-feira que viu a mulher gritando com Sophie algumas vezes. "Todo mundo podia ver claramente que Sophie tinha medo". Em uma das ocasiões, Brown, que descreveu Kouider como "agressiva e violenta", lhe pediu: ";Você pode parar de gritar assim com a menina?; Ela me respondeu que era preguiçosa, que não cozinhava, que não fazia nada".
O homem explicou que em uma ocasião em que visitou a casa levou dois "hachis parmentier", um picadinho de carne e purê de batatas típico da França, e que um era especificamente para Sophie, porque parecia "faminta".
Jaymani Patel, que trabalha em uma loja perto da casa da família, explicou que via Sophie várias vezes por semana, e que era uma menina "tímida" que "sempre sorria". Por outro lado, evitava Sabrina Kouider desde que discutiram na loja por cartões telefônicos. Ela "podia ser difícil", disse o comerciante.