Agência France-Presse
postado em 24/03/2018 17:57
O Parlamento catalão suspendeu neste sábado (24) a posse de um novo presidente regional pela detenção do candidato separatista Jordi Turull, após um golpe judicial contra a cúpula separatista, que coloca a Catalunha em um novo bloqueio político.
Na sexta-feira (23), o juiz que instrui a tentativa de secessão de outubro acusou 25 líderes separatistas, 13 deles por rebelião, decretou prisão preventiva para cinco - elevando a nove o número de políticos presos - e emitiu ordens de captura contra seis independentistas no exterior.
Um deles é o ex-presidente regional Carles Puigdemont, que atualmente reside na Bélgica.
Puigdemont tinha viajado para a Finlândia quando o juiz espanhol Pablo Llarena, que está investigando o caso, reativou o mandado de prisão, mas deixou o país na sexta-feira, antes que a polícia pudesse iniciar oficialmente a busca.
"A Finlândia recebeu uma ordem europeia de prisão de um cidadão espanhol que visita" o país e, por isso, ativará "o procedimento normal de extradição", indicou um comunicado do Escritório Nacional de Investigação (NBI) finlandês, referindo-se a Puigdemont.
Puigdemont viajou para a Finlândia para se encontrar com deputados deste país e participar de um seminário na Universidade de Helsinque.
Seu advogado, Jaume Alonso Cuevilla, confirmou mais tarde, por meio de um tuíte, que havia deixado Helsinque, sem dar maiores detalhes.
Plenária suspensa
Enquanto isso, em Barcelona, palco na sexta-feira de fortes protestos contra a decisão judicial e que terminaram com 37 feridos, os deputados catalães se reuniam no Parlamento para encontrar um sucessor.
Seu empenho foi novamente frustrado pela Justiça, que nas semanas anteriores já havia impedido a posse de Puigdemont e do ativista preso Jordi Sánchez.
"O candidato à Presidência da Generalitat (governo catalão) está na prisão junto com outros deputados desta Câmara", constatou o presidente da Câmara catalã, o separatista Roger Torrent.
Na quinta-feira, ocorreu a primeira sessão de debate e, apesar dos separatistas contarem com a maioria absoluta, Turull não foi escolhido por falta de apoio do grupo mais radical. Neste sábado, deveria ser submetido a uma segunda votação.
"É evidente que, nessas condições, a plenária não pode ser realizada", disse Torrent a um auditório taciturno e com quatro cadeiras vazias, adornadas com grandes fitas amarelas com os quais pedem a liberdade dos presos políticos.
No local reservado aos espectadores, havia familiares de alguns dos presos, aos quais dedicaram aplausos, e entre as fileiras separatistas muitos deputados mostravam rostos chorosos e davam longos abraços.
Treze dos processados - ex-membros do governo, parlamentares e líderes de associações separatistas - enfrentam até 30 anos de prisão pela acusação de rebelião, a mais polêmica, por envolver a existência de violência, algo que os independentistas negam.
"O que aconteceu ontem foi um ataque ao coração da democracia", assegurou Torrent em um ato institucional posterior à plenária, na qual não foi realizada a votação prevista, mas que contou com a fala de diferentes porta-vozes parlamentares.
;Fracasso coletivo;
Inés Arrimadas, líder do partido antinacionalista Cidadãos, a maior bancada da Casa, dirigiu-se a seus adversários estimulando que abandonem o processo de secessão. Também os recriminou por terem passado por cima das leis ao realizarem um referendo ilegal de autodeterminação e proclamado a secessão.
"Este processo tem sido um fracasso coletivo de toda a Catalunha (...) Vocês realmente têm que fazer uma reflexão: de que serviu este processo?", questionou, recordando a divisão social e a incerteza econômica causadas.
Além disso, a tentativa de criar uma república separada do Reino da Espanha acabou com a perda temporária da autonomia da Catalunha, que está sendo controlada diretamente pelo governo espanhol.
Esta intervenção será mantida até que os separatistas escolham um presidente e este forme um governo. Se não conseguir fazer isto antes de 22 de maio, a região terá de realizar novas eleições.