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Ferroviários franceses iniciam greve e desafiam Emmanuel Macron

Durante a manhã, apenas um trem a cada oito de alta velocidade estava operando e um a cada cinco regional. Nenhuma viagem para Espanha, Itália e Suíça deve ocorrer nesta terça (3/4)

Agência France-Presse
postado em 03/04/2018 10:00
As plataformas de trens amanheceram vazias
Os trabalhadores do sistema ferroviário da França iniciaram nesta terça-feira, (3/4), uma série de greves intermitentes com duração prevista de três meses, o que representa um desafio para o presidente Emmanuel Macron e seu desejo de aprovar reformas.

O primeiro dia de greve teve grande adesão, afirmou o sindicato CGT, e afeta consideravelmente um sistema de transporte utilizado diariamente por 4,5 milhões de pessoas no país.

Um em cada três trabalhadores ferroviários (34%) fez greve e mais de três em quatro condutores de trem (77%), afirmou a direção do SNCF, companhia nacional ferroviária.

Apenas um em oito trens de alta velocidade (TGV) e um em cada cinco trens regionais circularam.

O tráfego internacional também foi afetado, mas em menor escala, com três a cada quatro trens Eurostar, que liga Paris a Londres, em operação e uma circulação praticamente normal da linha Thalys que viaja à Bélgica.

Porém, não houve nenhuma viagem para Espanha, Itália e Suíça nesta terça-feira.

Os garis e funcionários do setor de energia também estão em greve para exigir um serviço público nacional.

Ao mesmo tempo, os trabalhadores da companhia Air France organizam o quarto dia de greve em um mês para exigir um aumento salarial de 6%.

Diante da série de protestos, especialmente a dos ferroviários, mobilizados contra a reforma do setor, "o governo resistirá pela via da escuta, da harmonia e do diálogo", afirmou a ministra dos Transportes, Elisabeth Borne.

Os sindicatos programaram uma greve de dois dias a cada cinco até o final de junho, totalizando 36 dias.

"É direito deles fazer greve, eles têm direito, não há nenhum problema, mas para os que trabalham é um inferno. Eu não pedi nada, e sou eu que tenho que suportar isso", queixou-se Julien Dufresne, diretor comercial de Lille (norte).

O primeiro-ministro, Édouard Philippe, declarou que ouve "tanto os grevistas" como "aqueles que querem ir trabalhar".


Um impulso social


Durante o dia, houve várias manifestações, uma delas em Paris, com cerca de 2.700 pessoas, segundo a polícia, que informou sobre incidentes e cinco pessoas feridas.

Também houve protestos em outras cidades do país, como Tours (centro), Lille (norte), Bordeaux e Toulouse (sudeste).

Para o líder do partido França Insubmissa (extrema esquerda), Jean-Luc Mélenchon, é o "início de um impulso social como nunca se viu no país".

Philippe Martinez, do sindicato CGT, pediu ao executivo que "ouça" o "grande descontentamento" social.

Os sindicatos da SNCF protestam contra a supressão do estatuto especial de seus trabalhadores que, assim como o do funcionalismo público, garante a estabilidade no emprego.

Também criticam a abertura do serviço ferroviário à concorrência e a transformação da empresa em sociedade anônima, abrindo a via para uma futura privatização, algo que o governo nega.

As pesquisas mostram que a opinião pública rejeita a greve, mas os sindicados esperam convencer os franceses, pois em 15 dias o apoio ao movimento subiu de 42% a 46%.

Até agora, o presidente francês, eleito com a promessa de "transformar" o país, conseguiu aprovar sem grande resistência suas reformas, incluindo uma delicada reforma trabalhista, apesar de vários protestos.

Mas desta vez Macron enfrenta uma tarefa muito mais difícil ao apontar para uma empresa de 147.000 funcionários, que obteve recuos de vários governos franceses nas últimas décadas.

Credibilidade


Para justificar a reforma, o governo recorda a enorme dívida da empresa pública, a necessidade de preparar a SNCF para a abertura à concorrência e os elevados custos de operação.

"Fazer circular um trem na França custa 30% mais caro do que em outros lugares", repete o executivo.

Macron joga parte de sua credibilidade na questão, já que não pode recuar diante dos ferroviários depois de ter acusado os antecessores de imobilismo.

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