Agência France-Presse
postado em 05/04/2018 11:07
Situações de crise - como os desastres naturais, os atentados e os tiroteios - são um terreno favorável para as "fake news" (notícias falsas), cujos autores aproveitam a emoção do momento para tentar ampliar sua magnitude.
Um exemplo recente é o tiroteio de terça-feira que deixou três feridos na sede do YouTube, perto de São Francisco: as "fake news" surgiram e citaram "dezenas de mortos", ou tentaram envolver personalidades como Hillary Clinton no ataque. Alguns meios de comunicação informaram que a conta de um funcionário do site foi alvo de hackers.
[SAIBAMAIS]O recente massacre em um colégio de Parkland, na Flórida, e as manifestações a favor do controle de armas também foram alvo de notícias falsas, geralmente com fins políticos. "São eventos traumáticos propícios para a divulgação de informações falsas e teorias da conspiração, porque geram um efeito de estupor", explica à AFP Rudy Reichstadt, diretor do observatório Conspiracy Watch, com sede em Paris.
"Quando vemos uma notícia que nos marca, ou choca, buscamos explicações e, na falta de informações, nos ligamos a teorias, inclusive as mais improváveis", completa. Um estudo do MIT, prestigioso instituto de pesquisa americano, publicado no mês passado na revista "Science" aponta que as notícias falsas tendem a viralizar nas redes sociais de modo mais rápido que as notícias verdadeiras, independentemente do tema.
;Clickbaits;
De acordo com as conclusões do estudo, enquanto no Twitter as notícias verdadeiras raramente são compartilhadas por mais de mil pessoas, 1% das notícias falsas mais populares alcançam entre mil e 100.000 pessoas. Além disso, as verdadeiras demoram seis vezes mais tempo do que as "fake news" para alcançar 1.500 pessoas.
Os autores do estudo determinaram ainda que as notícias falsas mais virais envolvem a política, à frente das lendas urbanas e da economia. A categoria "terrorismo e guerra" aparece em quarto lugar, seguida por desastres naturais. Os perfis e as motivações dos que produzem e propagam as "fake news" são diversos.
Reichstadt disse que "há empresários da teoria da conspiração, que reescrevem os fatos atuais de forma instantânea e permanente (...) em uma narrativa alternativa", como Alex Jones, criador do site americano Infowars, ou o francês Thierry Meyssan.
Após o massacre de Parkland, várias montagens de fotos que pretendiam desacreditar os defensores do controle das armas de fogo tentaram convencer os internautas de que uma das sobreviventes, Emma González, que virou uma das líderes do movimento, havia rasgado uma cópia da Constituição americana (que na realidade era um alvo de tiro), ou que que atacava um veículo de um defensor das armas (imagem que correspondia a uma foto antiga de Britney Spears).
Para completar existem os "clickbaits" (algo como caça-cliques), conteúdos que prosperam graças ao sensacionalismo e cujos autores desejam aumentar o faturamento com publicidade, e os fãs de complôs, que elaboram várias teses, segundo o direto da Conspiracy Watch.
Além das más intenções, da confusão e da precipitação em situações de crise, as notícias falsas também podem ganhar espaço pela falta de verificação da imprensa tradicional, ou por erros cometidos pelas fontes oficiais.
No terremoto que sacudiu o México em setembro do ano passado, a imprensa de todo o planeta informou sobre a tentativa de resgatar uma pequena menina chamada Sofia, com base nas declarações de socorristas e de autoridades, até que o governo veio a público para informar que a criança nunca existira.