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Indústria sul-coreana de videogames sofre 'caça às bruxas' feministas

Sindicatos e associações protestaram contra um aumento dos ataques sexistas contra as mulheres

Agência France-Presse
postado em 13/04/2018 16:37
Cada vez mais mulheres são atraídas pelos videogames na Coreia do Sul, mas a forma de pensar evolui pouco em uma indústria machista e atualmente afetada por uma "caça às bruxas" feministas. Sindicatos e associações protestaram contra um aumento dos ataques sexistas contra as mulheres e, sobretudo, os atos de censura contra aquelas que se atrevem a defender posturas feministas.

Na Coreia do Sul, como em outros lugares, o videogame foi durante muito tempo um terreno restrito aos homens. Mas esse tempo passou, e quando o editor americano Riot Games organizou uma competição de seu jogo "League of Legends" (LoL) na Coreia do Sul, metade do público era feminino.

O setor é avaliado em 4,2 milhões de dólares na Coreia do Sul, um país que conta com 25 milhões de jogadores - metade de sua população - e é o sexto mercado mundial do videogame.

De acordo com o site Newzoo, 42% das pessoas que jogam na Coreia do Sul são mulheres. Mas indústria do jogo está ficando para trás, já que só um quarto dos designers são mulheres.

Embora a sociedade sul-coreana esteja avançada em tecnologia, continua sendo muito patriarcal e está atrasada em termos de igualdade de gênero. Neste contexto, a indústria do videogame não é uma exceção.

"Ideologia antissocial"

A última polêmica surgiu quando o diretor-geral da IMC Games em Seul, Kim Hak-kyu, decidiu verificar se uma de suas funcionárias estava defendendo uma "ideologia antissocial", depois de que seus jogadores se queixaram de suas atividades no Twitter.

Sung Hye-jin foi criticada por seguir grupos feministas e ter retuitado uma mensagem que continha um termo em jargão para designar um homem sexista.

Alguns clientes da IMC Games chegaram a pedir sua demissão, qualificando-a de uma "criatura como o câncer" que "defende uma ideologia suja".

Diante destes ataques, Sung teve que se desculpar e se comprometer a não seguir os grupos em questão. Kim afirmou que ela tinha "cometido simplesmente um erro e não um crime que devia custar seu trabalho" e prometeu estar "atento". A resposta provocou um escândalo.

"Este ato misógino, o fato de ameaçar despedir uma mulher porque ela apoia a ;ideologia antissocial; do feminismo semeou consternação e medo entre as mulheres", denunciou em um comunicado a Confederação Coreana dos Sindicatos (KCTU). O dirigente da IMC apresentou posteriormente suas desculpas.

Em outras partes do mundo, a indústria do videogame foi criticada repetidamente pela forma como trata as mulheres, tanto no mundo virtual como no mundo real.

"As meninas não precisam de um príncipe"

Isto fica em evidência no caso do "Gamergate" nos Estados Unidos em 2014, quando um debate sobre vínculos entre jornalistas e criadores de jogos se transformou em ameaças de estupro e assassinato contra a desenvolvedora independente Zoe Quinn.

Na Coreia do Sul, os que se atreveram a apoiar Megalia, um polêmico grupo feminista on-line acusado de radicalismo por alguns ;gamers;, foram atacados.

Em 2016, o editor Nexon cedeu às pressões de alguns clientes que pediram a demissão de uma funcionária que tinha publicado uma foto sua com uma camiseta da Megalia que dizia: "As meninas não precisam de um príncipe".

No mês passado, Smilegate, outro editor, se comprometeu a retirar imagens realizadas por designeres acusadas por jogadores de estarem vinculadas ao grupo Megalia porque tinham publicado ou transmitido comentários sobre os direitos das mulheres.

Para a diretora de outra companhia, a decisão de Nexon em 2016 fomentou a vigilância e convenceu alguns internautas da legitimidade desta "caça às bruxas".

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