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Equador confirma assassinato de jornalistas sequestrados pelas Farc

..."Temos informação que confirma o assassinato dos nossos compatriotas", expressou o chefe de Estado em declaração o presidente Lenín Moreno

Agência France-Presse
postado em 13/04/2018 16:39

Parentes e amigos do jornalista sequestrado Javier Ortega, do fotógrafo Paul Rivas e seu motorista Efrain Segarra, reagem durante uma coletiva de imprensa em Quito, em 12 de abril

O presidente do Equador, Lenín Moreno, confirmou nesta sexta-feira (13) o assassinato em cativeiro dos dois jornalistas e do motorista do jornal El Comercio e anunciou ações militares na fronteira com a Colômbia, onde foram sequestrados em 26 de março por guerrilheiros dissidentes das Farc.

"Lamento informar que se cumpriram as 12 horas de prazo estabelecido. Não recebemos provas de vida e, infelizmente, temos informação que confirma o assassinato dos nossos compatriotas", expressou o chefe de Estado em declaração à imprensa em Quito.

O presidente ordenou, ainda, ações "militares e policiais" na conturbada fronteira com a Colômbia contra o sequestradores.

"Reiniciamos (...) as operações militares e policiais na região fronteiriça que foram suspensas e dispusemos imediatamente a mobilização de unidades de elite das Forças Armadas e da Polícia Nacional para este território", disse Moreno.

O governo responsabilizou pela morte do repórter Javier Ortega (32 anos), do fotógrafo Paúl Rivas (45) e do motorista Efraín Segarra (60) dissidentes envolvidos no tráfico de drogas, que operam na fronteira entre os dois países.

Na véspera, Moreno havia dado prazo de 12 horas aos captores para que entregassem uma prova de vida dos sequestrados, depois que as autoridades receberam da emissora de TV colombiana RCN fotografias de cadáveres que correspondiam aos reféns.

Moreno afirmou que "para além dos esforços realizados, se confirmou que estes criminosos aparentemente nunca tiveram vontade de entregá-los sãos e salvos, é muito provável (...) que o único que quisessem era ganhar tempo".

Conheça as vítimas


Ortega, o amor pelo ofício

Javier Ortega, de 32 anos, viveu sua adolescência em Valência, na Espanha, onde trabalhou em uma sorveteria. De lá, retornou ao Equador para estudar jornalismo. Ortega era o caçula de três irmãos, solteiro e sem filhos. Sua família o descreve como um homem calmo e seus amigos lembram de seu sorriso contagiante. Há seis anos trabalhava no El Comercio cobrindo temas judiciais e de segurança.

Entre suas coberturas de destaque estão o terremoto que atingiu a costa equatoriana em 2016 e o %u200B%u200Bacidente de avião que deixou 22 soldados mortos na Amazônia no mesmo ano. Também cobriu a deportação de dezenas de cubanos de Quito e o problema dos desaparecidos no Equador.

Da Espanha, trouxe o amor pelo Barcelona FC e, especialmente, pelo astro argentino Leonel Messi. Toda quarta-feira, depois de lidar com a pressão de seu trabalho, encontrava-se com sua outra paixão: o futebol. Ele adorava jornalismo, amava ler e cinema", disse à AFP Maria José Vela, amiga e ex-colega de faculdade.

Rivas, fotógrafo premiado

O fotógrafo Paúl Rivas, que em 25 de abril completaria 46 anos, tinha uma namorada e uma filha de 15 anos. Colecionador de câmeras antigas, deixou de lado uma carreira na publicidade pelo ofício de "desenhar com a luz".

Rivas, definido por sua família como um homem sensível e brincalhão, herdou a paixão de seu pai por capturar imagens e a passou para sua filha. Em homenagem a ele, fez um livro com fotos tiradas por ambos.

Uma fotoreportagem sobre os familiares de pessoas desaparecidas lhe valeu o prêmio Eugenio Espejo, concedido pelo Sindicato Nacional dos Jornalistas (UNP) de Quito. Além disso, ganhou duas vezes o prêmio Jorge Mantilla Ortega, concedido pelo jornal onde trabalhava há 20 anos.

Quando tirava suas fotos, "colocava seu boné pra trás. Um fotógrafo pronto para a ação. Nunca havia um Não em sua boca", afirma María Elena Vaca, colega de Rivas no El Comercio.

Segarra, motorista aventureiro

Efraín Segarra, a quem os jornalistas do El Comercio conheciam como ;Segarrita;, tinha 60 anos e era pai de dois filhos, um deles repórter do matutino de Quito. Seu amor pelos animais levou-o a cuidar em certa ocasião de 12 cães abandonados em sua casa. Nos últimos anos adotou dois gatos e um cachorro.

Em 16 anos de serviço no jornal, apaixonou-se pela fotografia. Em seu celular colecionava ;selfies; tiradas em cada cidade que visitava, de acordo com sua família. Ter um filho jornalista era "seu orgulho. Um motorista meticuloso com um grande sorriso", lembra Vaca.

Com um espírito aventureiro, Segarra trabalhou como motorista em um ministério e um banco, onde chegou a dirigir veículos blindados. Ele compartilhava com seus outros dois companheiros assassinados o amor pelo futebol. Era torcedor do Deportivo Quito, agora na segunda divisão, do qual ostentava uma coleção de camisas.

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